Migração e Migrações
A gestão sustentável das migrações é o maior problema com que a União Europeia seconfronta no seu objetivo de aplicar os valores de paz, liberdade e humanidade que informam a parceria. Sobre o tema das migrações é muito difícil conseguir ganho de causa para abordagens ponderadas e equilibradas. A fratura entre os que querem fechar as portas da Europa e os que as desejam escancarar tornou-se uma cratera que engole as propostas que combinam razão e coração, humanismo e bom senso.
Como em muitos outros domínios, há quem opine por má fé e pura intenção de conquista de votos e poder e quem se deixe levar por estes opinadores de forma emocional. Para os que são condicionados pela propaganda, é muito importante quererem e poderem conhecer e refletir sobre as experiências vividas por quem nos procura, para terem uma oportunidade de despertar a empatia para com o outro antes de formularem os seus vereditos.
Sem deixar de seguir com compromisso e atenção as áreas da transição digital e da transição energética, o facto dos meus colegas me terem mandatado para copresidir em nome do Parlamento Europeu à segunda maior Assembleia Parlamentar do Mundo, que envolve 156 representantes de 106 países e 4 continentes e também para ser relator permanente do Parlamento Europeu para a ajuda humanitária, avivou-me ainda mais a sensibilidade para as questões globais e para o impacto que elas têm na vida de cada ser humano em concreto.
Esta coluna que o Diário do Sul publica semanalmente há mais de 30 anos intitulando-se “Visto do Alentejo” aborda muitas vezes, como os leitores sabem, temas que aparentemente podem ser vistos de qualquer outro sítio, mas com um olhar sempre marcado por um sentimento, uma experiência de vida e uma identidade cívica inculcada nesta terra.
A partir do Alentejo e sem o deixar nunca, migrei para uma mais funda compreensão daquilo que une e daquilo que diferencia os diferentes povos e as diferentes culturas, escutando, respeitando e procurando perceber os seus diferentes pontos de vista e explorar o que podemos fazer para o bem de todos.
Esse exercício, que recomendo a todos na medida das suas possibilidades, abre-nos a razão e o coração para conciliar em vez de fraturar, para compreender em vez demonizar, para somar em vez estigmatizar, contribuindo para que a gestão sustentável das migrações seja um processo de compromisso conseguido com racionalidade e humanismo e não continue a ser impedido por um cacharolete de egoísmos de diferentes origens e fundamentos.