Interesse comum
Por falta de condições, umas vezes económicas e outras políticas, para construir as interconexões necessárias, a Península Ibérica que é um exemplo na transição verde e na adoção de energias renováveis, foi reconhecida no curso da crise criada pelo bloqueio ocidental ao gás russo, uma ilha energética.
Face a esta circunstância, além de articular com Espanha um mecanismo ibérico para controlo dos picos de preço na energia nos momentos mais críticos, o governo relançou a estratégia de aposta nas interconexões elétricas e de transporte de hidrogénio verde. Essa estratégia foi agora reconhecida na sua relevância, ao ver incluídas as infraestruturas de que necessitam na lista europeia de Projetos de Interesse Comum.
Com a atribuição deste selo de relevância, os projetos selecionados terão prioridade e apoio nos procedimentos e poderão obter uma comparticipação até 75% do investimento através do mecanismo interligar europa. Neste pacote está incluída a construção e adaptação da rede de gás em Portugal para o transporte de hidrogénio verde, orçada em 240 milhões de euros, a construção da rede de interligação com Espanha para o mesmo efeito, orçada em 204 milhões de euros e também a terceira interligação elétrica entre Portugal e Espanha com conexão a França através do Golfo da Biscaia.
A interligação para transporte de hidrogénio verde com Espanha é complementada com outros projetos de interesse comum que permitirão fechar a ligação a Barcelona e daí até Marselha e aos mercados da Europa Central. Prevê-se que por este corredor verde europeu possam circular cerca de 750 mil toneladas de hidrogénio por ano, o que corresponde a 10% do consumo projetado no continente.
Foi com muito júbilo que tomei conhecimento destas decisões no contexto de um diálogo estruturado com a Comissária da Energia e com pasmo, espanto e tristeza que vi colegas do PSD, que também se bateram comigo por estes projetos e pelo projeto de construção de um eletrolisador em Sines, confundirem a “nuvem com Juno” e tentarem pôr tudo em causa devido a uma suposta investigação a decorrer em Portugal sobre este último projeto.
Não é por acaso que a seleção de projetos a que me refiro neste texto se intitula lista de projetos de interesse comum. São projetos que servem os povos europeus e o desenvolvimento integrado da parceria. São projetos de interesse nacional e de interesse para os territórios e as pessoas em concreto. Deviam ser à prova das balas da politica de ocasião.