Cidadanias Gémeas
A nossa vida quotidiana desenvolve-se em torno da informação e da energia que produzimos e consumimos. Num momento em que o mundo está a sofrer mudanças estruturais, em grande parte impulsionadas pelo desenvolvimento científico e tecnológico em torno da informação e da energia, as nossas sociedades deviam debater a fundo as opções que se relacionam com estes temas.
A cidadania digital e a cidadania energética são pilares essenciais para fazermos da aceleração tecnológica um processo capaz de contribuir para o bem-estar e para a qualidade de vida nas nossas comunidades e territórios.
Temos ainda um longo caminho a percorrer. No digital, debate-se a qualidade da informação, a credibilidade dos conteúdos, as opções e as carências de acesso físico ou formativo ou os riscos de segurança, quase sempre a partir de um caso mais ou menos sensacional, mas sem uma perspetiva estruturada e integrada que permita monitorar e colocar a transição como um indutor de transformações positivas.
A mesma análise podemos aplicar ao domínio da energia. Debatem-se as flutuações dos preços, os impactos das infraestruturas no território, a justiça dos tarifários ou o potencial das novas tecnologias e tem-se vindo a desenvolver um crescente consenso nacional em torno da necessidade da descarbonização e da aposta em energias limpas, mas também não fomos tão longe quanto deveríamos ter ido no debate sobre o modelo energético que queremos para o nosso futuro coletivo.
Enquanto Eurodeputado representei os Socialistas e Democratas na negociação do Regulamento de Governação da União da Energia que foi adotado como legislação comunitária em dezembro de 2018, enquanto componente do pacote da energia limpa, entrando em vigor 1 de janeiro de 2019. Bati-me muito para que a legislação incentivasse os países a realizarem grandes debates nacionais, envolvendo não apenas os agentes ligados ao sector, mas chamando a população em geral.
Por razões de calendário isso não aconteceu com dimensão necessária em 2019, nem em Portugal nem na generalidade dos estados membros, e também não está a acontecer na revisão intermédia que o Governo se prepara para aprovar em breve em Conselho de Ministros.
A cidadania digital e a cidadania energética crescem com participação informada. Há muita informação disponível. Estaremos todos melhor preparados para debater os casos que nos impactam diretamente se formos parte ativa na definição das escolhas e regras que os determinam.