Artigos de Opinião

Neste espaço poderá encontrar os artigos que ao longo dos últimos anos foram sendo escritos por Carlos Zorrinho e publicados em diversos meios de comunicação social.

Código de Confiança

Sempre que o tema da reforma do Estado regressa à agenda política, como regressou agora com a inclusão na estrutura do XXV Governo Constitucional de um novo Ministério dedicado à Reforma do Estado e da Administração Pública, renasce também a ideia de que aquilo de que o País precisa é de uma reforma de mentalidades.

A história recente e a mais longeva mostram que as grandes reformas raramente medram em Portugal e que as revoluções legislativas só têm impacto estrutural se se inculcarem nos comportamentos e nos hábitos dos cidadãos e dos agentes económicos e institucionais sem necessidade de avantajar a teia burocrática que desde há muito tempo nos asfixia.

Acredito que reformas bem-sucedidas têm que ser ambiciosas nos objetivos, mas simples e leves na forma, de maneira a serem aceites como parte da dinâmica da sociedade e não provocarem desde logo a formação de barreiras de erosão e descaracterização.

Um exemplo de uma reforma bem-sucedida, que tem vindo a esmorecer por falta de sequência foi o Simplex, Programa de Reforma e Modernização Administrativa lançado 2005 e cujas consequências benéficas ainda hoje se notam na nossa sociedade. Em contrapartida o Programa de Reformas Estruturais lançado pelo Governo Passos/Portas saldou-se em decapitação de empregos e competências, destruição de serviços e capacidades e alienação ao desbarato de estruturas fundamentais para o funcionamento do Estado e da Economia. As suas consequências desse período em que Portugal são ainda bem dolorosas e visíveis na incapacidade do Estado dar boa resposta em áreas chave e na fragilidade da estrutura empresarial e administrativa em domínios como a capacidade de dar sequência aos concursos para modernização do Estado ou das infraestruturas sobre a sua tutela.

A Reforma do Simplex e a Reforma Passos/Portas foram reformas de cariz e contextos diferentes. Destaco, no entanto, uma questão chave. A primeira baseou-se numa relação de confiança entre o Estado e os portugueses. A segunda alicerçou-se numa profunda desconfiança. O que sinto hoje, quando percorro os meandros do relacionamento entre o Estado e a sociedade civil, é que a desconfiança campeia, a burocracia galga, o desespero e a impotência crescem.

Se a Reforma do Estado agora anunciada pelo novo governo quiser vencer a barreira da inércia e da mentalidade tem que se fundamentar num código de confiança. Se o não fizer será mais uma tentativa remetida para o caixote do lixo de uma repartição a jeito.

Últimos Artigos

Demiurgo Burocrático

Diário do Sul

A sessão solene comemorativa do dia da Universidade de Évora de 2025, realizada no passado dia 1 de novembro na sala dos atos do Colégio do Espírito Santo, foi uma…

Ler o artigo completo

Pensamento Crítico

Diário do Sul

Embora escrito antes da minha tomada de posse como Presidente da Câmara Municipal de Évora, esta crónica será publicada já depois disso ter acontecido. Marca por isso o início de…

Ler o artigo completo

Entrevista Imprevista

Nascer do Sol

Em maio de 2024 não se via a concorrer à Câmara de Évora. Pensava no regresso ao ensino superior ou em ações humanitárias pelo mundo. O que o fez mudar…

Ler o artigo completo