“Temos um plano de emergência para dez meses e um plano de transformação para dez anos”
No Diário do Sul e na Rádio Telefonia do Alentejo estamos a promover um ciclo de entrevistas a propósito das eleições autárquicas do próximo dia 12 de outubro.
Nesse âmbito, pretendemos falar com todos os candidatos à presidência do Município de Évora e, sempre que possível, essas entrevistas são feitas pela ordem em que foram apresentadas as respetivas candidaturas.
Como tal, começamos com Carlos Zorrinho, cabeça-de-lista do Partido Socialista (PS) à presidência da Câmara Municipal de Évora, denominando-se esta candidatura como “Évora Viva”.
Nasceu em Óbidos, em 1959, mas desde cedo que a sua vida esteve ligada ao Alentejo, nomeadamente a Évora, onde frequentou o ensino secundário. Licenciou-se em Gestão de Empresas na Universidade de Évora (UÉ), onde também se doutorou em Gestão da Informação e agregou em Organização e Gestão de Empresas. É professor catedrático no Departamento de Gestão da UÉ desde 1984 até à atualidade.
Militante da Secção de Évora do PS e membro dos órgãos nacionais do partido, é de referir que já foi membro eleito das Assembleias Municipais de Évora e de Montemor-o-Novo. Foi deputado à Assembleia da República pelo círculo eleitoral de Évora e, mais recentemente, foi deputado ao Parlamento Europeu durante dois mandatos.
É de realçar que tem sempre desenvolvido uma intensa vida cívica no Alentejo e, em particular, em Évora que é o seu concelho de residência.
Porque é que se candidata à Câmara de Évora?
Évora deu-me tudo, foi a terra onde eu cresci, onde fiz a minha carreira universitária, a minha carreira política, onde me casei, onde nasceram os meus filhos. Agora, que voltei, senti que era um momento também de poder dizer presente numa circunstância que é de alguma emergência e de algum sentimento de frustração, de estagnação, de dificuldade. Évora é um concelho tão extraordinário, em que vimos oportunidades como a Capital Europeia da Cultura, como as indústrias que aqui se podem desenvolver nas áreas da saúde, da aeronáutica, agrícola, dos dados ou do digital. Tem uma universidade extraordinária, é uma cidade Património Mundial, foi uma grande cidade em períodos históricos anteriores e é também uma grande cidade hoje, mas depois sentimos que está estagnada e triste. Nós temos todas as condições para ser, como eu costumo dizer, uma grande Capital Europeia ao Sul.
Entendo esta candidatura como um dever, mas ao mesmo tempo como algo muito desafiante e estimulante porque acredito que vamos poder fazer coisas que são importantes para os eborenses e para nós também sentirmos que demos um contributo.
Quais os principais desafios do Município de Évora?
Tem sido possível perceber que a cidade está desmoralizada em relação àquilo que ela própria poderia e deveria ser. A afirmação de Évora como Capital Europeia ao Sul é a condição para responder ao que é preciso de imediato, como a limpeza, que é aquilo que todas as pessoas sentem que é inaceitável; a qualidade dos arruamentos; o mau estado do estacionamento; a forma caótica como o trânsito se processa; ou a enorme falta de habitação.
Eu não falo de uma Capital Europeia do Sul, mas sim ao Sul, é a imagem de Évora como uma grande capital histórica, com identidade. Para isso precisamos de uma grande praça maior e nós propomos requalificar o Rossio para ser uma grande praça urbana.
Temos também coisas extraordinárias no património, na cultura, no turismo ou na gastronomia. Por um lado, se nós tivermos as tais condições de acolhimento, isto cria condições para gerarmos muito mais receitas e assim temos condições para sermos uma câmara com mais recursos, para depois também darmos melhores respostas.
Em relação ao Hospital Central do Alentejo, defendo que seja não apenas um hospital para dar as respostas do dia-a-dia que as pessoas precisam, mas também o grande hospital de conhecimento, em termos das respostas aos problemas que existem no Alentejo, nomeadamente uma população muito envelhecida e muito dispersaaníveldemográfico, tornando-se num grande centro de conhecimento nestas áreas. Podemos e devemos especializar-nos nisso e a partir daí atrair laboratórios ou empresas que desenvolvem produtos e soluções, bem como atrair os melhores profissionais de saúde que queiram especializar-se nisso, podendo até fazer- se uma proposta muito diferenciada para um curso de Medicina na UÉ.
Outro desafio é ser uma câmara amiga e uma autarquia que dê o exemplo, dinamizando comportamentos mais integrados e participativos. Portanto, ser uma estrutura que funcione melhor, mais transparente, que não demore o tempo que demora a responder e a licenciar.
Por isso, desde logo, a cidade precisa de um governo forte, que tem que se ligar com todas as estruturas da cidade, nomeadamente as juntas de freguesia.
Precisamos também de fazer algumas reformas muito importantes ao nível da câmara porque é necessário criar confiança para atrair mais investidores e para que as pessoas que cá estão invistam mais.
Para estruturar a câmara é fundamental criar um gabinete de projetos porque Évora, como concelho, aproveita muito pouco os fundos estruturais. Tem de ser um gabinete que revisita os projetos que estão na câmara e que não foram aprovados, que os tenta atualizar; que dá respostas rápidas a quem quer fazer projetos e os submete à câmara e, ao mesmo tempo, que antecipa projetos que nós sabemos que a cidade vai precisar.
Temos ainda de olhar para os procedimentos e os processos da câmara e otimizá-los e informatizá- los. Não só cada um se sente valorizado pelo trabalho que faz, como ao mesmo tempo pode haver uma relação de maior transparência com os munícipes. Para isso também queremos otimizar o Portal do Munícipe.
Acredito que com esse tipo de procedimentos mais transparentes e mais percetíveis, todos estarão interessados em trabalhar em equipa e teremos uma melhor estrutura a funcionar.
Quais os pilares estratégicos do programa desta candidatura?
Nós estruturámos o nosso programa em três partes. Uma é a nossa “Visão para Évora”, que implica o reposicionar Évora como uma Capital Europeia ao Sul e aproveitar a Capital Europeia da Cultura, o hospital, a universidade ou o desenvolvimento industrial para reposicionarmos a cidade desse ponto de vista. Fazer ainda uma aposta muito forte nos domínios sociais e, em particular, criando um espaço habitação para combinarmos as ofertas privadas, públicas e cooperativas.
A segunda parte do nosso programa é um plano de emergência para agir já e que queremos que tenha resultados visíveis ao fim de dez meses. Tem 17 medidas, as que mais impactam no dia-a-dia. Alguns exemplos são em áreas como a limpeza, habitação, trânsito, videovigilância, retirar viaturas que estão abandonadas no espaço público, melhorar o estacionamento ou recuperar as instalações sanitárias públicas.
Mas temos também um plano de transformação para dez anos. Um dos grandes problemas que Évora tem é a fragmentação política, que foram os eborenses que escolheram e, por isso, é tudo absolutamente legítimo. Mas é por isso que é tão importante a ideia do apelo à maioria estável, pois será terrível para a cidade se voltarmos a ter um governo fragmentado em que há sempre uma desculpa para as coisas não se fazerem. No caso de sermos eleitos, ao fim de dez anos queremos ser julgados pela capacidade de termos transformado Évora e o concelho numa grande Capital Europeia ao Sul.
Évora é Capital Europeia da Cultura em 2027. Que impacto pode ter este acontecimento no concelho e na região?
Desde logo, é uma grande oportunidade para recuperarmos o nosso posicionamento, ao mesmo tempo que é um mobilizador. Não podemos fazer a Capital Europeia da Cultura com as estradas como estão, nem com os parques de estacionamento, nem com a sinalética ou com a limpeza que temos.
Já perdemos muito tempo e sabemos algumas consequências disso. Por exemplo, não teremos o pavilhão cultural multiusos, não teremos a escola de dança, nem outras infraestruturas. Mas há outras coisas que se farão e que se estão a recuperar, sendo importante que o livro de compromisso seja concretizado com uma grande participação.
Foi tão difícil criar a parceria da Évora 27, que eu defendo que ela se mantenha para além de 2028. E temos que ter pelo menos um festival cultural que seja uma grande marca internacional, bem como uma programação cultural que nos posicione como grande Capital Europeia da Cultura.