A Chamada
Esta crónica será publicada em plena campanha eleitoral para as eleições autárquicas que se realizam já no próximo Domingo. Por isso, o único apelo que nela incluo é o apelo ao exercício do direito de voto. É um exercício que homenageia e defende a democracia pluralista, o que nos tempos que vamos vivendo tem uma particular relevância e oportunidade.
Tal como a maioria dos que leem, vivi grande parte da minha vida em paz e democracia. Após o fim da segunda grande guerra mundial, embora tenham continuando a eclodir conflitos mais ou menos violentos um pouco por todo o globo, a Organização das Nações Unidas, foi afirmando a prevalência da diplomacia sobre a guerra, da cooperação sobre a divisão, da negociação sobre a rotura. Ao mesmo tempo, a União Europeia foi-se afirmando como um reduto de paz, liberdade e progresso, baseado na interdependência, na parceria económica e política e na partilha da soberania para objetivos comuns.
Estas duas instituições, tal como muitas outras instituições globais, denotam hoje sinais evidentes de crise, sujeitas a fortes pressões de quem prefere operar num mundo fraturado, onde possa imperar a lei do mais forte, criando um terreno fértil para a guerra, para o confronto e para os enormes negócios que dele decorrem, em prejuízo da qualidade de vida, do bem-estar e da segurança dos povos.
Com os chapéus de chuva protetores da ordem internacional cada vez mais enfraquecidos e uma nova ordem difusa a ganhar contornos, boas praticas como as que ocorrem no poder local democrático, são bastiões de resistência e proximidade fundamentais para amarrar a humanidade aos compromissos existenciais da paz, da liberdade, do diálogo multicultural, da dignidade e da sustentabilidade.
Por tudo isto, caro leitor, não sendo este um tempo de apelar numa crónica regular que tenho a honra de publicar há muitas décadas neste jornal, a um voto específico a 12 de Outubro, mesmo sendo candidato e parte diretamente interessada no processo, é como cidadão que vos peço que reflitam sobre a importância de votarem e de, através desse ato de cidadania ajudarem a escurar os pilares da convivência democrática, que na história foi sempre o melhor caminho para a felicidade e a prosperidade das comunidades em que vigorou e vigora.
O destempero das relações internacionais e dos valores éticos e morais que nela se têm esfarelado, faz da atitude de cada um de nós, um reduto fundamental para que um futuro melhor seja possível. Não faltemos à chamada.