Artigos de Opinião

Neste espaço poderá encontrar os artigos que ao longo dos últimos anos foram sendo escritos por Carlos Zorrinho e publicados em diversos meios de comunicação social.

A (boa) Rede

A humanidade deve o seu progresso a múltiplos fatores, mas é consensual entre os especialistas que no plano prático a grande vantagem competitiva da nossa espécie foi e continua a ser a capacidade colaborativa.

A aceleração tecnológica induzida pela Internet fez-nos a todos acreditar que a colaboração acrescida, potenciada pelas novas redes de informação e conhecimento, iriam criar condições para melhorar a democracia, promover a inovação, reduzir as desigualdades e permitir à humanidade dar passos positivos de progresso e desenvolvimento sustentável.

Sabemos hoje que não foi isso que aconteceu. A velocidade e a capacidade de recolha, armazenamento, tratamento e transmissão de dados escancararam a bifurcação intemporal entre o bem e o mal. A colaboração entre indivíduos, comunidades ou organizações não é boa por natureza. Depende do propósito com que é feita, tal como a classificação entre o que é bom e o que é mau depende dos interesses, pontos de vista e valores dos que nela são envolvidos.

Como explicita de forma detalhada Yuval Harari, no seu mais recente livro de grande impacto – Nexus – História breve das redes de Informação ( Elsinore – Setembro 2024), o desenvolvimento tecnológico acelerado que permitiu conectar de forma cada vez mais rápida e alargada os agentes da sociedade e multiplicar as redes colaborativas, revelou em realidade aumentada a dicotomia entre o que é positivo e o que não é, fazendo do conhecimento, dos valores e do propósito, os pilares essenciais do nosso tempo e do nosso futuro coletivo.

Como nos apercebemos em cada dia que passa, o facto de haver mais informação a circular nas redes, tanto ajuda a inovar e a resolver problemas antes inacessíveis, na politica, na economia, na saúde, na educação e em tantas outras áreas, como promove e agrava outros tantos, em particular quando a informação é manipulada, distorcida ou desenhada para conduzir a interpretações contrárias à liberdade, à fraternidade e à dignidade das pessoas e conduzir à destruição da diversidade, dos habitats e da sustentabilidade do planeta em que vivemos.

Falo com muitas pessoas que estão assustadas com o impacto da Inteligência Artificial (IA) nas suas vidas. A minha convicção é que são as suas vidas que vão determinar se a IA será uma ferramenta ao serviço da humanidade ou se será a humanidade a submeter-se à nova linguagem.

A formação e o debate sobre a tecnologia e os seus impactos têm que estar na praça pública. Somos nós que podemos escolher a boa rede ou soçobrar na rede má, e temos que estar preparados para isso.

Últimos Artigos

Demiurgo Burocrático

Diário do Sul

A sessão solene comemorativa do dia da Universidade de Évora de 2025, realizada no passado dia 1 de novembro na sala dos atos do Colégio do Espírito Santo, foi uma…

Ler o artigo completo

Pensamento Crítico

Diário do Sul

Embora escrito antes da minha tomada de posse como Presidente da Câmara Municipal de Évora, esta crónica será publicada já depois disso ter acontecido. Marca por isso o início de…

Ler o artigo completo

Entrevista Imprevista

Nascer do Sol

Em maio de 2024 não se via a concorrer à Câmara de Évora. Pensava no regresso ao ensino superior ou em ações humanitárias pelo mundo. O que o fez mudar…

Ler o artigo completo