Alegria de Sentir
Não se pode ser protagonista da transformação de um território ou de uma organização, se não nos sentirmos parte dela. Nas últimas semanas tenho procurado de forma tranquila ir conversando cada vez mais com as pessoas, visitar as instituições, conhecer os problemas, ouvir ideias e projetos e percorrer os lugares que são o chão do nosso futuro partilhado.
Para lá dos episódios lamentáveis que vão captando audiências nas televisões e nas redes sociais e carcomendo ao mesmo tempo as raízes da democracia representativa, o grande debate que tem vindo a marcar o nosso tempo, desde o contexto individual ao global, é o impacto da inteligência Artificial (IA) em cada contexto e em cada momento da nossa vida. Um debate para o qual confluem todos os saberes e abordagens, mais quantitativas ou mais qualitativas, mais pragmáticas ou mais filosóficas.
Simplificando estas questões de enorme complexidade para o contexto duma crónica com foco generalista, um dos temas mais interessantes do debate em curso é sobre a capacidade ou a incapacidade dos mais modernos modelos de linguagem baseados em algoritmos de inteligência artificial terem sentimentos.
Também neste tópico os campos se extremam. Para uns, os modelos de linguagem, por mais sofisticados e potentes que sejam, jamais poderão sentir. Para outros, com a velocidade e a profundidade com que processam os dados, os algoritmos criam reações “emotivas”. Rezam as crónicas que humanos já se apaixonaram por algoritmos e que, segundo eles, foram correspondidos. Por mim, neste momento da minha própria aprendizagem, tenho a convicção que os modelos de linguagem podem emular padrões de comportamento emocional e até combinar e gerar novos padrões, mas a raiz continua a ser humana.
Esta reflexão pessoal é uma boa razão para voltar à motivação básica deste texto. Com ou sem próteses cognitivas, o sentimento de pertença a uma comunidade é fundamental para que cada um de nós seja um agente ativo na sua dinâmica de transformação. Sinto-me cada vez mais entrosado com o meu Concelho, com a minha cidade e com os sentimentos que a perpassam.
São sentimentos plurais e contraditórios muitas vezes, mas são sentimentos que temos que fazer convergir para uma vontade comum de ir mais além, honrar a nossa história e afirmar tudo o que temos de positivo, com isso beneficiando a qualidade com que vivemos e a alegria com que queremos e podemos ser eborenses.
PS: Dia 25 o Diário do Sul faz 56 anos. Um projeto de serviço público que atravessou regimes e ciclos políticos e económicos sempre ao serviço dos leitores e da região. Expresso a minha gratidão e desejo-lhe longa vida.