Cidades que respiram
A minha vida política e académica deu-me a oportunidade de conhecer meio mundo, ou talvez um pouco mais, nos cinco continentes, percorrendo terras e territórios com paisagens, histórias e culturas muito diversas. Dos Países que visitei profissionalmente, embora tentasse sempre que possível sair das cidades para ter uma ideia mais abrangente e diversificada, foi das capitais ou das maiores cidades que guardei uma memória não apenas panorâmica, mas enriquecida com uns laivos da vivência e do quotidiano dos espaços.
As cidades são corpos vivos e dinâmicos que interagem connosco, com as nossas sensações e expetativas. A chegada ao aeroporto e o primeiro trajeto até ao destino pode marcar de forma indelével uma apreciação que nunca deixa de combinar emoção e razão. É também deste ponto de vista que embora não seja tema desta crónica, sublinho a importância de Portugal cuidar com a maior urgência possível da qualidade da sua infraestrutura aeroportuária e em particular do novo aeroporto internacional de Lisboa e das suas acessibilidades à capital e a todo o território envolvente, incluindo Évora e o Alentejo.
Estive em cidades bonitas e em cidades que nem por isso. Em todas, no entanto, foi possível encontrar recantos e viver momentos gratificantes e também situações indiciadoras de que até no melhor pano cai a nódoa. Não restringindo a apreciação ao património antigo ou recente, encontrei cidades pobres e belas e cidades ricas e sem alma. Para mim a luz sempre fez a diferença e há cidades luminosas por natureza e outras que nem um milhão de lâmpadas conseguem iluminar.
Neste texto queria destacar uma outra dicotomia para além da beleza aparente e da riqueza exposta. Quando se chega a uma cidade e nela se permanece algum tempo, rapidamente sentimos se a urbe e o seu território envolvente fluem, respiram, estão organizados para facilitar e melhorar a vida das pessoas ou se pelo contrário são espaços bloqueados e bloqueadores, geradores de stress e de ineficiência, por mais extraordinário que seja o que se vê e o património construído.
O mais desafiador é que quando pensamos porque é que algumas cidades fluem e outras bloqueiam, rapidamente concluímos que mais do que uma questão de beleza ou riqueza, o que está em jogo é um padrão de organização. Cidades normativas e burocratizadas são cidades bloqueadas. Cidades geridas para as pessoas, descomplicadas, com propósito e estratégia tendem a respirar melhor, e respirar melhor faz toda a diferença quando pensamos no nosso presente e no nosso futuro comum.