Construtores de Mundos
“Construtores de Mundos – A Tecnologia e a nova Geopolítica”, é o título do novo livro de Bruno Maçães, que conheci como Secretário de Estado dos Assuntos Europeus nos tempos da crise do Euro e da Troika.
Editado em português em junho de 2025 pela “Temas e Debates”, a obra propõe uma abordagem muito estimulante para nos ajudar a refletir sobre o mundo complexo em que vivemos e sobre a forma como podemos continuar a trabalhar para travar a fragmentação e as desigualdades crescentes, que são berço dos radicalismos e da erosão da confiança num futuro digno e democrático.
Um dos temas abordados pelo autor com profundidade no eu livor é a dinâmica de mudança económica e social que foi despoletada em função da pandemia do COVID. No passado as pandemias tinham levado ao colapso das sociedades em que ocorriam. Há múltipla literatura sobre isso. A pandemia do século XX provocou muita dor e sofrimento, mas as sociedades adaptaram-se rapidamente e a generalidade das suas estruturas políticas, económicas e sociais sobreviveram.
Uma das razões que justificam a diferença entre o que aconteceu agora e o que tinha acontecido no passado, é o facto de hoje vivermos num “mundo real” que em múltiplas dimensões se reflete num espelho virtual, através da profusão cada vez maior das novas tecnologias de produção, armazenamento, processamento, transmissão e comunicação de informação.
Durante e depois do COVID foram muitos no mundo, e também em Portugal, que se viram duplamente excluídos, pelo facto de não terem acesso às novas ferramentas tecnológicas, mas o núcleo das economias e dos serviços públicos e sociais mantiveram-se a funcionar e moldaram o mundo que emergiu no pós-Pandemia, embora sem que a oportunidade de transformação positiva com que muitos sonharam, se tenha concretizado.
O que Maçães nos demonstra no seu livro, entre muitas outras coisas, é que o mundo atual tem uma nova plasticidade que decorre das infraestruturas sobre as quais é todos os dias construído.
Para além do ruido das ondas de informação superficial apontada à gestão dos sentimentos e dos comportamentos imediatos, quem tiver valores, propósito e determinação, pode usar essas novas ferramentas como instrumentos para construir novos mundos, seja no plano local, seja no plano local ou na esfera individual.
A educação em geral, e a educação em particular para o novo mundo construído sobre as plataformas digitais, têm que ser direitos universais. Da extensão desta medida decorrerá a medida da liberdade e na qualidade com que vamos viver os novos tempos.