Crónica Desportiva
Imagino que muitos dos meus leitores habituais pensem que a Frontline, mesmo considerando que se trata de uma edição de verão, não é o meio certo para escrever sobre desporto. Se vou escrever é porque não penso assim. O desporto é um fenómeno transversal à sociedade, decisivo na saúde, na formação ética, na inclusão social e nalgumas das suas vertentes é também cada vez mais um negócio e uma ferramenta diplomática com elevado peso global.
Adoro desporto, sou adepto vibrante, em particular do Sporting Clube de Portugal, e enquanto pude pratiquei diversas modalidades, com particular ênfase no futebol, no futebol de salão e na corrida de meio fundo, o único desporto que vou continuando a praticar com regularidade, embora sem objetivos competitivos.
Para economia de texto e clareza de ideias vou-me focar no Futebol, embora muito do que aqui direi se aplique a muitas outras modalidades. Este foi um ano grande para um adepto do leão e da seleção nacional e embora ainda me sinta empolgado pela dupla vitória da equipa principal do Sporting na Liga e na Taça de Portugal e pelos bons resultados das nossas seleções nacionais, não posso esconder algum desencanto com o que vejo acontecer no futebol profissional.
Dou por mim a “passar” muitas transmissões televisivas que noutros tempos não trocaria por quase nada. Gosto cada vez mais de ver competições nacionais dos diferentes países e das diferentes divisões e gosto cada vez menos de jogos espetáculo, ditos de exibição, em competições de plástico, que exploram os atletas até à exaustão e colocam na corda bamba o princípio fundamental da verdade desportiva.
Este ano as equipas do Concelho de Évora, em particular o Juventude e o Lusitano, tiveram bons resultados desportivos. O primeiro ascendeu ao Campeonato de Portugal e o segundo sagrou-se campeão desse escalão e ascendeu à liga 3. O papel de formação e inclusão realizado pelas equipas do Concelho, que fui conhecendo melhor pelas visitas e reuniões que realizei como candidato à Presidência da Autarquia é digno de nota. A capacidade agregadora do espírito de comunidade ficou bem marcada nos momentos de festejo, o maior dos quais terá sido a enorme festa realizada no Estádio Nacional (vulgo Jamor) antes e depois do Lusitano de Évora ter vencido a final do Campeonato de Portugal.
Quando finalizei a antiga quarta-classe pedi como prenda ao meus Pais uma assinatura do jornal “A Bola” que recebi primeiro no Alentejo e depois em Angola e em cuja leitura fui aprendendo muito sobre o mundo que ia para além das nossas fronteiras acanhadas e controladas pela censura do Estado Novo, que os jornalistas do então trissemanário desportivo mais conceituado em Portugal, driblavam com desenvoltura e bom português.
O “Hiper negócio” em torno do futebol está a matar a galinha dos ovos de ouro. Cuidemos por isso dos pintainhos que a galinha tenderá a desprezar. Do futebol enquanto desporto rei adorado pelas multidões e não do futebol encenado para as entreter e viciar.