Economia de Guerra
Escrevo este texto antes das eleições legislativas em Portugal sabendo que será publicado posteriormente. Nas últimas semanas respeitei os princípios editoriais que tornam o Diário do Sul uma grande referência da imprensa nacional e regional, abordando temas de atualidade, mas sem ceder a tentações de condicionamento das escolhas eleitorais, deixando a minha assumida militância para outros Fóruns e espaços de intervenção. Embora não tenha dons de adivinhação, acredito que o tema que abordo neste texto não perderá pertinência nem atualidade com o resultado que, entretanto, se tiver verificado.
A parceria europeia foi constituída como uma resposta de paz, cooperação e interdependência face à brutal guerra mundial que devastou a Europa entre 1939 e 1945. A prioridade dada ao diálogo e à diplomacia face às alternativas belicistas, levaram a que progressivamente a economia europeia se tivesse desenvolvido como uma economia de paz, com redução dos orçamentos de defesa e baseando a sua defesa numa parceria alargada como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) beneficiando assim do designado guarda-chuva protetor dos Estados Unidos da América (EUA) enquanto maior potência militar global.
A estratégia expansionista da República da Rússia traduzida na invasão da Ucrânia e nas ameaças reiteradas a outros países soberanos, associada às declarações incendiárias de um dos putativos futuros presidentes dos EUA, obrigam a que a União Europeia (UE) tenha que repensar e reforçar as suas capacidades próprias de defesa e segurança. Sem abandonar a economia de paz a UE tem que se preparar para a guerra, seja em primeiro lugar pela sua capacidade de dissuasão, seja, em condições extremas, pela sua capacidade de ação.
Por escolha dos meus pares representei recentemente os socialistas e democratas na negociação de instrumentos urgentes para o reforço da indústria europeia de defesa. É desta forma que podemos assegurar a autonomia estratégica da UE, sem por em causa a dinâmica de inovação, criação de emprego qualificado e desenvolvimento dos seus territórios.
Cumprir o acordo de afetar 2% do Produto Interno Bruto à Defesa e Segurança é uma questão de credibilidade perante os nossos parceiros e de proteção dos cidadãos europeus, apostando numa nova geração de conhecimento e de capacitação da nossa indústria e das nossas forças de segurança e defesa para fazer face a ameaças externas, assegurando que parceria europeia seja capaz de desenvolver um potencial dissuasor compatível com os valores de paz e de diálogo que a inspiram.