Emergência Humanitária
Num tempo de fenómenos extremos e comunicação global é quase impossível evitar que as sociedades tendam a normalizar situações que noutras circunstâncias gerariam uma consternação geral e uma reação forte das instituições e da sociedade civil.
Sendo relator permanente do Parlamento Europeu para a Ajuda Humanitária todos os dias sou confrontado com o agravamento das crises mais conhecidas, mas também das crises esquecidas e das crises emergentes. Quando elaborei o relatório sobre “Uma nova estratégia para a ajuda humanitária – foco nas crises esquecidas”, adoptado pelo plenário do Parlamento Europeu em novembro de 2023 os números da catástrofe humanitária eram brutais. Desde essa data o diferencial entre os recursos e as necessidades não parou de aumentar. Agravou-se também o fenómeno de diferenciação entre as crises mediáticas, como a atroz crise humanitária em Gaza e as crises esquecidas, de que a crise do Sudão, do leste do Congo, de Cabo Delgado, da Síria, do Líbano ou do Haiti são apenas alguns exemplos.
A avalanche de pessoas, em particular mulheres e crianças, em risco de sobrevivência é de tal forma arrasador que torna difícil segmentar situações e delinear estratégias que tenham em conta se a origem dos fenómenos são conflitos políticos, ações terroristas, fenómenos climáticos ou radicalismos religiosos, entre outros, e também desenhar respostas em função da vulnerabilidade dos grupos afetados, designadamente das mulheres, das crianças, das pessoas com deficiências, dos idosos ou da dimensão cada vez mais emergente da saúde mental associada à pressão extrema sobre as condições de vida dos povos afetados.
Esta semana realiza-se em Bruxelas o Fórum Humanitário Europeu 2024, tendo como temas centrais em debate “o fosso de financiamento e a definição de prioridades” e “as crises esquecidas e ambientes humanitários frágeis”. A convite da Comissão Europeia e da Presidência Belga do Conselho da União Europeia foi-me pedido para intervir no painel sobre como reduzir o diferencial entre as necessidades e os recursos disponíveis para a ajuda humanitária.
O relatório que antes citei tem várias propostas que voltarei a enumerar na sessão. Mas não haverá nunca recursos suficientes se não se travarem as causas. A assistência a quem precisa é fundamental, mas a condenação de quem provoca tem que ser uma arma, sob pena de cada vez mais pessoas darem tudo para ajudar o próximo, mas serem incapazes mesmo assim de responder à enorme vaga de emergência humanitária que vai crescendo exponencialmente pelo mundo, dia após dia.