Artigos de Opinião

Neste espaço poderá encontrar os artigos que ao longo dos últimos anos foram sendo escritos por Carlos Zorrinho e publicados em diversos meios de comunicação social.

Espelho Meu

No início da década de oitenta do século passado o desenvolvimento das bases de dados relacionais permitiu desenvolver os primeiros sistemas de informação em “tempo real”, ou seja, sistemas de informação que refletiam as organizações de forma virtual na mesma linha do tempo, permitindo aos gestores agirem diretamente sobre a organização real e indiretamente através do seu espelho virtual.

Coordenando uma equipa da Universidade de Évora, tive a oportunidade de participar ativamente no desenvolvimento, em articulação com a COMPTA, representante na altura em Portugal da ORACLE, dos primeiros sistemas de informação em tempo real nas empresas Cimianto e Sorel. Dessa experiência resultou a base para o meu doutoramento em 1991, cujo tema foi a interação entre o desenvolvimento dos sistemas de informação e das organizações e cuja base conceptual está sintetizada no livro “Gestão da Informação” publicado no mesmo ano pela Editorial Presença.

O desenvolvimento da Inteligência Artificial Generativa constitui, para a representação virtual da realidade, um salto disruptivo comparável com o que foi provocado há quase quarenta anos pela disseminação das bases de dados relacionais, com a diferença de termos agora modelos de linguagem que aprendem com os padrões, geram novos padrões e abarcam não apenas os sistemas organizacionais, mas o “mundo” enquanto sistema.

Enquanto espelho do real, capaz de o interpretar, acrescentar, distorcer ou manipular, a Inteligência Artificial Generativa tornou-se uma arma geopolítica fundamental e uma nova plataforma de leitura para as dinâmicas económicas e sociais em todos os níveis da existência humana.

Os sistemas de informação em tempo real eram espelhos em que se podia imaginar e desenhar caminhos para a construção do real. Agora e por maioria de razão, acredito que a IA é o espelho do nosso futuro comum e que como tal é nossa obrigação tentar inscrever nele os valores com que o queremos ver acontecer. Destaco duas opções chave que temos que tomar rapidamente.

Em primeiro lugar, queremos uma IA distribuída, multilateral, interdependente ou preferimos um campeão centralizador e aglutinador? Ambos os caminhos têm riscos e oportunidades. O primeiro pode incentivar a cooperação em benefício da humanidade ou gerar uma guerra global impulsionada pelos algoritmos. A segunda pode gerar uma paz frutuosa ou uma asfixia global da liberdade e do direito à identidade.

Em segundo lugar, queremos resistir na União Europeia (UE) na defesa de uma transição digital focada nas pessoas, nos seus direitos e na interoperabilidade concorrencial das plataformas? Se a UE desistir do princípio, porque tanto me bati no Parlamento Europeu, de que as empresas que operam no seu território devem fazê-lo segundo as regras e valores da União (refletido nos regulamentos dos mercados e serviços digitais e da inteligência artificial) terei menos orgulho em ver-me ao espelho como europeu. Espelho meu!

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