Ideologia e Ação
Na política internacional os tempos não estão fáceis para a prospetiva nem para as ideias feitas. Isso não nos dispensa, no entanto, de ser proactivos e suficientemente humildes para aprender com cada situação e criar as condições para que a nossa participação cívica seja bem-sucedida, ajudando a acontecer aquilo em que acreditamos.
França e Reino Unido tiveram recentemente eleições, convocadas fora do ciclo político normal e tendo como principal objetivo criar válvulas de escape democráticas para a forte pressão social sobre os governos em funções. Sobretudo em França foi enorme o receio de que o expediente acabasse por se transformar numa oportunidade de captura do poder pela extrema direita nacionalista e autoritária. Olhando para os resultados em duas das mais históricas democracias europeias, mesmo tendo em conta a grande imprevisibilidade do processo francês, existem alguns dados comuns que merecem ser destacados.
Tal como nas eleições europeias realizadas em junho, também estas eleições dos dois lados do canal da mancha parecem mostrar uma retoma do interesse dos eleitores, invertendo um ciclo de crescimento da abstenção, sinal vital para o futuro das democracias abertas. Ao mesmo tempo a votação dos mais jovens tem vindo a crescer mais do que a dos outros grupos etários, e ao contrário de tendências anteriores, essa votação jovem tem-se vindo a inclinar para as opções mais progressistas e europeístas, sinal de que as forças políticas nesse espectro estão a fazer um esforço para adaptar as suas propostas às necessidades e aos anseios das novas gerações.
É muito cedo e ainda não há razões para cantar vitória. A Extrema Direita reagrupada é já a terceira força no Parlamento Europeu e uma eventual vitória de Trump em novembro dar-lhe-á uma projeção global ainda mais danosa para o futuro da democracia e do desenvolvimento humano no mundo.
Os sinais, no entanto, indicam a estratégia para mudar o jogo. É precisa ideologia e ação para levar as pessoas a tomar partido, a defender a paz, a liberdade e a dignidade e a exigir o combate às desigualdades e à captura das sociedades pelas elites globais. Não apenas a ideologia teórica dos grandes valores, mas a ideologia prática da sua aplicação à realidade tal como ela é hoje.
Muitos dos indiferentes, dos desiludidos e dos desmotivados pela desinformação, libertaram-se das correias e voltaram às urnas fazendo ouvir a sua voz. Da forma como o eco transformar para melhor as suas vidas, depende o futuro de todos.