Inteligência Essencial
Participei recentemente na sessão de abertura e no jantar/conferência do 17ª Congresso Nacional dos Arquitetos que decorreu em Évora. Falei naturalmente de arquitetura e de tudo aquilo que com ela se relaciona, tendo em particular atenção o contexto de Évora, mas não pude deixar de abordar a riqueza do conceito que serviu de mote ao evento.
Definir e proteger a “inteligência essencial” para o exercício da arquitetura tem que ser de facto a grande prioridade da Ordem dos Arquitetos, mas também das escolas que os formam, das redes em que investigam e partilham conhecimento científico e prático, das associações em que se inserem e das outras instituições que regulam a sua atividade.
O que é válido para a arquitetura é válido também para outras profissões, mais ou menos reguladas, mas fortemente impactadas pela aceleração tecnológica, pelas novas ferramentas de conceção e de concretização e pela onda da Inteligência Artificial e dos modelos de linguagem que tudo parecem submergir e aplanar numa espécie de código universal de boas práticas geradas pelos Algoritmos.
A Inteligência é sempre essencial, mas a forma como se incorpora no processo criativo faz toda a diferença. Se partirmos da inteligência natural e dos valores éticos de cada um para definir o propósito e depois acelerarmos a concretização com recurso à inteligência artificial e a outras próteses cognitivas, tenderemos a ser mais eficientes, mais eficazes e mais competitivos nesse caminho.
Se começarmos ao contrário, ou seja, se tivermos a ilusão de que podemos arrancar seguindo de forma automática os modelos propostos pela inteligência artificial, para mais tarde os domarmos e personalizarmos, o risco de perder pelo caminho a inteligência essencial é enorme.
Perder a inteligência essencial é banalizar a imaginação, a criatividade e o conhecimento num magma pantanoso de ilusão de progresso, sem garantias de realização individual, nem de ganho coletivo em termos de sustentabilidade, inclusão e coesão.
Inspirado pelas palavras de Eduardo Souto Moura no Jantar/Conferência ocorreu-me uma metáfora que ilustra o tema desta crónica de forma mais simples, clara e até poética e que partilhei com quem estava por perto. Partilho-a agora com os meus leitores.
Pensemos num sonho que idealizámos e que queremos concretizar. A Inteligência Artificial pode ser essencial para tornar a concretização desse sonho possível. Mas se for “ela” a desenhar o nosso sonho, estão nós seremos apenas os artífices do sonho “dela”.