Artigos de Opinião

Neste espaço poderá encontrar os artigos que ao longo dos últimos anos foram sendo escritos por Carlos Zorrinho e publicados em diversos meios de comunicação social.

Lume de Chão

Os tempos de festas e transições são mais propícios à introspeção e isso tem-se refletido nas últimas crónicas que publiquei neste espaço. Esta não destoará do registo, encerrando um ciclo que não deve conseguir prevalecer mais tempo, face aos tremendos desafios políticos e sociais que se aproximam quer no plano nacional, quer no plano europeu e global e sobre os quais não deixarei de aqui partilhar o meu olhar.

As tecnologias mudaram a nossa vida e, para quem a elas pode aceder, melhoraram o conforto e a forma como criamos novos hábitos e também como reinventamos velhas tradições. Neste Natal, por conexões diversas, vieram-me à memória os tempos de infância e de adolescência, e de entre eles, uma recordação viva do lume de chão onde pela manhã se fazia o café e tostavam as torradas, ao longo do dia se cozinhavam alguns alimentos e pela noite se juntava a família, para conversar, ouvir as radionovelas na moda e mais tarde seguir as novidades no ecrã a preto e branco de um dos dois canais de TV disponíveis.

Também me recordei muito, pensando em tempo menos longínquos, das crepitantes lareiras com que aquecíamos as salas antes e depois da consoada e do inconfundível som e cheiro da lenha a arder, que também faziam parte do momento alto de convívio familiar que era a ceia de natal.

Tenho saudades de muitas das pessoas que povoam estas memórias, sobretudo das que já partiram, mas este não pretende ser apenas um texto de memórias. É também uma reflexão sobre a relação entre o contexto e o sentimento.

Olhando para trás tenho a sensação que o crepitar da lenha a arder nos acendia também por dentro de uma forma mais intensa, até porque convidava mais à aproximação de todos em torno do foco de calor e menos à dispersão de pessoas e conversas que os sistemas eficientes e sofisticados dos nossos dias propiciam e facilitam.

Será que esta relação que identifico entre uma certa “robotização” dos ambientes e o menor calor das interações também é sentida pelos que me leem e viveram os mesmos tempos e experiências? Ou será o meu “madeiro” emocional caso único?

Confesso que ao ver a alegria com que novos e maduros se associam a reconstituições genuínas das práticas de antanho, numa comunhão reforçada com a natureza na celebração da vida, sinto que não estou só nestas interrogações arrancadas da lufa-lufa em que os dias se vão esvaindo.

Crepitar (falo física e metaforicamente de lareiras, lumes de chão e similares e não de fogo descontrolado e destruidor) é viver.

Últimos Artigos

Um Dilema Europeu

Diário do Sul

Na minha vida académica e política sempre tive uma ligação forte às questões europeias. Ainda jovem assistente universitário fui bolseiro do programa COMETT, que me permitiu fazer investigação em Montpellier.…

Ler o artigo completo

Demiurgo Burocrático

Diário do Sul

A sessão solene comemorativa do dia da Universidade de Évora de 2025, realizada no passado dia 1 de novembro na sala dos atos do Colégio do Espírito Santo, foi uma…

Ler o artigo completo

Pensamento Crítico

Diário do Sul

Embora escrito antes da minha tomada de posse como Presidente da Câmara Municipal de Évora, esta crónica será publicada já depois disso ter acontecido. Marca por isso o início de…

Ler o artigo completo