Artigos de Opinião

Neste espaço poderá encontrar os artigos que ao longo dos últimos anos foram sendo escritos por Carlos Zorrinho e publicados em diversos meios de comunicação social.

Matusalém

A razão que me leva a escrever sobre idade ou idades nesta crónica estival é porque este é um tempo em que se aceita melhor um pouco de pensamento especulativo, mas também porque mesmo numa abordagem leve, o tema do conflito que vai emergir entre a nossa idade real e a idade atribuída pelos algoritmos de avaliação é sério e merece reflexão.

Um bom amigo que reencontrei há alguns dias contou-me com alegria que tinha feito um check-up de última geração, com todas as análises e exames e que no final lhe tinha sido atribuída uma idade real 10 anos abaixo da sua idade efetiva, além de uma muito positiva previsão de sobrevida natural que o transformará, salvo imprevisto ou ação alheia ao normal processo biológico, num Matusalém dos novos tempos, passe o exagero da imagem (Matusalém terá vivido 969 anos!).

Em 28 de maio deste ano cumpri o meu 65º aniversário. Pensei que era uma data sobretudo simbólica e comemorei-a como tal, mas todos os dias em pequenos procedimentos burocráticos ou similares sou lembrado que agora pertenço a outro segmento etário. Pertenço?

Burocraticamente pertenço, mas biologicamente só saberei se seguir as pisadas do meu amigo e também fizer o estudo preditivo, hoje só disponível com credibilidade para alguns, mas muito em breve acessível para todos no telemóvel ou no relógio de pulso.

No dia a dia de cada um de nós a idade legal define quase tudo. Entre muitas idades determinadas há uma idade para votar, uma idade para se poder eleito ou uma idade para nos podermos reformar, para referir só algumas que têm a ver com a cidadania e com os princípios do Estado Social.

Imaginemos, contudo, que um jovem de 15 anos se apresenta na urna de voto ou no tribunal da comarca com um atestado de que sua maturidade validada pelos mais modernos algoritmos é equivalente a 18 anos? Ou um profissional que já ultrapassou os limites de idade para poder exercer, atesta que está apto a fazê-lo. Ignora-se? Tem-se em atenção? Se se tiver atenção vai-se começar a pedir um atestado para perceber se quem tem 18 anos não tem maturidade inferior? Ou de quem se quer reformar com 66 não “tem” de facto 58. E nesse caso deve poder reformar-se. E se não se reformar, qual é o efeito dominó no círculo dos que partiram do princípio de que se reformaria? Familiares, colegas, prestadores de serviços?

Pois é caros leitores. A aceleração tecnológica vai mudar as nossas vidas e muito. Não tenho espaço nem sabedoria para vos dizer como, mas se vos despertei a curiosidade já valeu a pena. A história do meu amigo “Matusalém” já tem umas semanas e ainda não me saiu da cabeça!

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