Migrações
Não é de estranhar que o tema das migrações, associado à promoção da xenofobia e do medo também tenha inundado a campanha eleitoral em curso em Portugal. Tem sido assim um pouco por todo o mundo democrático, onde a instrumentalização dos fluxos de pessoas para plantar o medo, fragmentar o tecido social e gerar o ódio têm sido usados e abusados.
Recentemente, a convite da SEDES, participei em Faro num debate sobre a captura e a fixação de talentos, sobretudo numa região que tem profundas flutuações demográficas, uma enorme dependência da indústria de turismo, está a transformar o seu perfil agrícola, enfrenta uma grave escassez de agua e dispõe também de vários centros de excelência em articulação com o tecido universitário e politécnico.
A mobilidade é uma constante das dinâmicas de desenvolvimento da humanidade. As migrações pela sua natureza podem e devem ser geridas, mas tentar pará-las é como construir castelos na areia em maré vazia.
Face à instrumentalização das migrações para a manipulação e projeção de posições extremistas de recusa do outro, temos que afirmar uma perspetiva empática e de compreensão daquilo que move e motiva o outro. Sermos capazes de nos colocarmos no lugar do outro, como já aqui escrevi, é uma das mais eficazes formas e ajudarmos a desminar a nossa sociedade das armadilhas fraturantes.
Para preparar a minha intervenção em Faro fui estudar melhor o fenómeno em Portugal. No que se refere à atração e ao saldo de fixação de talentos a nossa posição nos rankings é muito melhor do que as perceções que campeiam na nossa sociedade. Segurança, tolerância e estilo de vida são fatores que nos tornam profundamente atrativos, enquanto o nível medio de remunerações e de qualificações médias nos prejudicam enquanto destino de atração e fixação de talentos.
Em vez de diabolizar as migrações, das quais precisamos como sociedade envelhecida e com baixa dinâmica demográfica, o que precisamos é de trabalhar em conjunto para tornar a as dinâmicas de mobilidade, positivas para todos.
Em Faro propus 6 ideias chave que hoje aqui partilho; dar prioridade a quem vem trabalhar para Portugal no mundo e não apenas em Portugal para o mundo, corrigir a fiscalidade para não penalizar a competitividade dos jovens qualificados nacionais, fazer mais engenharia civil do que engenharia financeira para criar nova habitação, desburocratizar procedimentos e fazer escolhas de setores em que ambicionamos estar no topo e atrair ou fixar os melhores à escala global.
Portugal é um país global, aberto, cosmopolita, seguro. tolerante. Não nos deixemos derrotar por quem desistiu de um futuro que está nas nossas mãos construir.