O Alentejo e a nova vaga na Saúde
Sob o signo do vagar, identidade e onda, passado e futuro, Évora e o Alentejo vão celebrar em 2027 a Capital Europeia da Cultura. É também em Évora que não obstante os solavancos das burocracias e de algumas más vontades, começa a aproximar-se a conclusão do Hospital Central do Alentejo.
Acredito que o Hospital Central do Alentejo é uma oportunidade nacional, europeia e global para testar e concretizar uma nova cultura na prestação de cuidados de saúde. Tenho-o defendido em vários fóruns e vou continuar a fazê-lo.
Com a evolução tecnológica em curso e em particular com os desenvolvimentos da inteligência artificial, sem por em causa a matriz base de conhecimento, a forma como vão ser exercida a prática da medicina e de tudo o que lhe é adjacente será sujeita a profundas transformações. Existirão alguns riscos, mas também muitas oportunidades, designadamente em contextos como o do Alentejo, com escassez de profissionais numa população esparsa envelhecida, distribuída por um território vasto.
O acompanhamento em rede, a partir de um núcleo forte de supervisão não pode ser feito à custa da interação humana nem da qualidade dos atos praticados. Por isso um conceito de Hospital de vanguarda implica a sua associação a uma escola capaz de formar os recursos para os novos ecossistemas de saúde em vão ter que atuar.
Aproveitar a oportunidade de fazer do novo Hospital Central do Alentejo um piloto da nova geração da saúde, implica dotá-lo dos sistemas e equipamentos mais avançados e ao mesmo tempo criar uma Escola de Medicina no quadro da Universidade de Évora envolvendo o sistema regional de Ensino Superior e as parcerias externas adequadas, que inclua a requalificação ou a formação de uma geração de médicos para exercerem nos novos contextos tecnológicos, bem como de equipas de assistentes de saúde, que nesse quadro possam assegurar a interação humana com os utentes monitorados, observados ou consultados à distância.
Criar ofertas desse nível vai implicar um trabalho alargado com centros de conhecimento nacionais e internacionais, nos planos do saber médico e da capacidade tecnológica, gerando uma exigente, mas promissora centralidade de valor acrescentado na nossa região, para todos e em particular para as pessoas que necessitam de cuidados de saúde.
Muitos considerarão esta ideia muito ambiciosa, na fronteira do sonho ou da utopia. É nessa fronteira que nasce tudo o que transforma e semeia o desenvolvimento nos territórios e que serve quem lá vive. Não deixemos de sonhar enquanto abrimos a janela por onde pode acontecer.