O mundo mudou. E agora?
No mesmo dia em que pude apresentar em Évora, aos 25 parceiros de 10 países que integram o Projeto Auroral, um projeto liderado pelo Alentejo e que visa dotar as comunidades rurais de um ambiente digital inclusivo, a minha perspetiva sobre os desafios que se colocam para que as regiões no triângulo, inovação, competitividade, coesão, estive também no CNEMA em Santarém no evento WIDE/DO onde fui orador e tomei contacto com projetos e agendas mobilizadoras em execução no quadro do PRR no domínio da inovação e da competitividade agrícola.
Após 10 anos no Parlamento Europeu, que me permitiram conhecer e participar ativamente no desenho das políticas e dos programas europeus com impacto no desenvolvimento regional, foi muito desafiante poder olhar agora essas mesmas políticas a partir dos relatos de quem as está a executar no terreno.
Desde o momento em que a grande maioria das políticas e dos programas foram concebidos e aprovados, o mundo mudou a uma velocidade para a qual não estávamos preparados, impulsionado por uma disrupção geopolítica emergente das guerras, dos conflitos e do acesso ao poder de cada vez mais autocratas e por uma disrupção tecnológica que vai alterando processos, posicionamentos competitivos e cadeias de valor.
A mudança é uma ameaça, mas também, pela sua natureza, uma oportunidade para quem se conseguir adaptar melhor. Mais do que medidas avulsas, por muito importantes que possam ser, Portugal e as suas regiões precisam de construir agendas que mobilizem os agentes públicos e privados para os desafios que se aproximam.
É preciso reforçar as redes de inovação, desburocratizar procedimentos, focar investimentos capazes de gerar autonomia estratégica e capacidade negocial e qualificar os agendes individuais e coletivos para serem protagonistas no novo contexto de ação.
Os indícios de que que os próximos fundos europeus para a coesão tenderão a ser mais exíguos e verticalizados, ou seja, com maior foco em prioridades da parceria europeia face ao mundo, implica que nos preparemos para estar na fronteira da capacidade de conceber e executar essas políticas em rede, combinando a proximidade na resolução de problemas com o potencial da sua disseminação e partilha com outras regiões e territórios.
Não estou otimista em relação ao futuro do mundo e da parceria europeia, mas estou confiante na capacidade de Portugal e dos portugueses mais uma vez mostrarem estarem à altura nos tempos difíceis e serem parte da solução. Assim as lideranças tenham arrojo e as burocracias não atrofiem a criatividade que nos é inata.