Paixão pela Educação
Mesmo sabendo que o que corre bem raramente é notícia e que a formação da identidade de cada nova geração nunca é fácil, a avalanche de casos disruptivos que ocorrem diariamente envolvendo jovens com contextos de aparente integração é um fenómeno muito preocupante.
Pactos de morte, violência contra os pais ou outros familiares, violência entre grupos de colegas, Bullying, ameaças contra docentes, pertença a grupos extremistas, adesão a discursos de ódio ou submersão na onda silenciosa e crescente da depressão, da desistência e de outras perturbações mentais, são comportamentos críticos que exigem de todos nós reflexão e ação.
Estando a aproximar-se mais um Natal com a sensibilidade aumentada que o rodeia, somos intimados pela realidade a somar às celebrações religiosas próprias da época e ao importante reagrupar das famílias com reforço dos laços de fraternidade que as unem, uma atenção especial para com todos os que sofrem e em particular para os jovens em perigo no processo de procura de si mesmos e para as famílias dilaceradas pelos trambolhões que ocorrem nessa caminhada.
A pandemia dos comportamentos desviantes que assola cada vez mais jovens, não tem fronteiras nem respostas e soluções fáceis, tendo em conta a complexidade do contexto que nos trouxe até aqui. O agravamento profundo das desigualdades, a falta de condições dignas em que crescem muitas das nossas crianças, a profusão de desinformação e de manipulação a que são sujeitas através das redes sociais e a organização da sociedade e do trabalho que retira cada vez mais tempo ao acompanhamento pelas famílias do crescimento e desenvolvimento das suas crianças, são apenas alguns exemplos da disrupção desse contexto.
A voz corrente tende a simplificar a análise, postulando que muitas famílias desistiram de educar as suas crianças e entregaram essa função à escola, ao mesmo tempo que a escola não tem meios nem capacidade para se substituir a essas famílias. A realidade valida esta perspetiva. A resposta tem que criar contextos para que as famílias tenham mais ferramentas para acompanhar a educação dos jovens e tem que voltar a fazer do investimento na escola uma grande prioridade, senão mesmo a prioridade maior da nossa sociedade.
O desinvestimento da sociedade da informação e do conhecimento na escola, além de contranatura é profundamente errado e tóxico. É preciso valorizar e qualificar em permanência os professores e todos os profissionais associados ao processo educativo, melhorar as infraestruturas e criar comunidades escolares vibrantes que atraiam também a participação das famílias e fomentem uma aprendizagem dinâmica, o pensamento crítico e a autonomia das pessoas na interação com os algoritmos e as novas ferramentas tecnológicas.
A paixão pela educação não pode ser um slogan caído em desuso. Tem que ser uma realidade com consequência nas escolhas políticas e sociais com que nos confrontamos.