Pensamento Crítico
Embora escrito antes da minha tomada de posse como Presidente da Câmara Municipal de Évora, esta crónica será publicada já depois disso ter acontecido. Marca por isso o início de uma nova fase enquanto cronista do Diário do Sul, na qual assumo o compromisso de não abordar temas que tenham a ver com a minha função institucional.
Vivemos um tempo em que estabelecer fronteiras estanques no domínio do pensamento e da comunicação é extremamente difícil. Não sou nem quero ser um homem “duplicado” na forma de olhar e sentir o mundo. A minha experiência quotidiana vai influenciar os temas sobre os quais sentirei semanalmente o impulso de escrever, mas escreverei como cidadão que olha o mundo a partir do nosso Alentejo e em mais nenhuma outra condição.
Terei que ter, agora mais do que nunca, uma capacidade de pensamento crítico sobre mim mesmo, para destrinçar conteúdos e continuar a oferecer aos meus leitores pontos de vista que sejam atuais e do seu interesse.
O pensamento crítico é, do meu ponto de vista, a mais preciosa ferramenta que cada ser humano pode usufruir para num mundo em profunda aceleração tecnológica, manter os valores, o propósito e o sentido da sua vida.
Conheço a metáfora que talvez já tenha usado e que nos diz que a informação é o novo petróleo. Também estou ciente de que o conhecimento é a fonte da interpretação do mundo e o maior criador de riqueza de que dispomos. Acredito que a imaginação e a capacidade de sonhar são o grande reduto da humanidade para continuar sempre um segundo à frente dos algoritmos.
As ondas da informação, do conhecimento e da imaginação podem, no entanto, tornar-se “cavaleiros do apocalipse” se não forem mediadas e interpretadas com pensamento crítico, capacidade de discernir, optar, escolher, fazer acontecer.
Na comunidade, na família, na escola, é fundamental dotar todos, e em particular os mais novos, de pensamento crítico construtivo. A capacidade de olhar com consciência e olhos de ver é o maior antídoto contra o radicalismo, a desinformação, o espírito de seita, o discurso de ódio ou da desistência do usufruto do bem supremo que é viver.
Todos os dias lemos e vemos histórias terríveis de quem se deixou contaminar por narrativas forjadas e disseminadas no mundo virtual. Existe hoje um mercado vasto para essas narrativas de manipulação e destruição da identidade individual e coletiva. Um “mercado” que exige de quem o quer estancar, um investimento em comunidades saudáveis, ancoradas na educação e na cultura para a liberdade. Com pensamento crítico.