Sobre mim
Não nasci no Alentejo, mas sinto-me alentejano. O meu pai nasceu em Santiago do Escoural e a minha mãe em Casa Branca, a 5 km de distância, ambos no Concelho de Montemor-o- Novo. Enquanto o meu pai cresceu pelo Escoural, a minha mãe foi viver muito nova com uma parte da família que residia em Óbidos. Numa das visitas da minha mãe ao Escoural enamoraram-se e vieram a casar. Nessa altura, já o meu pai era militar em Mafra e, por isso, ali passaram a viver. Quando chegou o momento de eu nascer, Óbidos era onde estava a família mais próxima, e foi aí, numa linda casa dentro do castelo, que nasci. Ao longo na minha infância passei férias com regularidade no Escoural, exceto quando tive que acompanhar o meu pai e a família nas suas comissões de serviço no Ultramar. Tenho uma irmã nascida na então Lourenço Marques (hoje Maputo). Fiz a escola primária em Lourenço Marques e no Escoural, o Ciclo, como então se dizia, em Caldas da Rainha e Évora, o Secundário em Luanda, Caldas e Évora e a Universidade em Évora. Não é um padrão que os pedagogos recomendem, mas fui sempre bom aluno, dispensei da generalidade dos exames e aprendi a adaptar-me com facilidade. Guardo muitas memórias. Sempre adorei jogar futebol e praticar desporto e comecei a interessar-me por política desde muito cedo. No ano da revolução regressei de Angola em setembro e, apenas com 15 anos, embrenhei- me nas lutas académicas e cívicas, primeiro nas Caldas da Rainha e mais tarde pelo Alentejo. Para além da aprendizagem, da família, da brincadeira e das paixões, o desporto e a participação política ativa na academia, nas associações e no PS marcaram a minha vida desde muito jovem e deixaram marcas para sempre.
Queria estudar jornalismo, mas no ano em que cheguei à Universidade o curso não abriu. Fiquei por Évora em Ciências Sociais para optar mais tarde por sociologia, mas no ano seguinte, por falta de alunos, essa opção não abriu. Acabei em Gestão Agrícola. É nisso que sou licenciado. Durante o curso fui monitor de investigação operacional. Quando o acabei fui contratado pelo Departamento de Gestão de Empresas da Universidade de Évora para lecionar nessa área. Nesse contexto, surgiu a oportunidade de coordenar uma equipa da Universidade de Évora que ajudou a instalar o primeiro sistema integrado de gestão da informação em Portugal, com suporte na então emergente base de dados ORACLE. Foi por aqui que cheguei à Gestão da Informação, tema em que me doutorei e especializei. Hoje sou Professor Catedrático de Gestão, desde 1999. Num livro sobre os designados Gurus da Gestão em Portugal, chamaram-me o “Sociólogo dos Sistemas de Informação”. Revejo-me nessa síntese.
Sempre tive o apoio total da família nas minhas escolhas. O meu pai por vezes preocupava- se por achar que o desporto e a política podiam prejudicar os estudos, mas como ia tendo boas notas, ia escapando à censura. O mais difícil foi quando lhe disse que ia ser coordenador da Direção da Associação de Estudantes da Universidade de Évora. Achou que estava tudo perdido. Prometi-lhe então que aos 40 anos seria catedrático, e cumpri. Hoje, poderia ser o maior génio do mundo, que não conseguiria cumprir. Infelizmente há cada vez menos vagas para progressão nas carreiras. Tive algumas experiências de trabalho em empresas e fui sócio fundador duma. Mais tarde vendi a quota. A Universidade e a representação ou exercício político preencheram-me a vida profissional.
A vontade de participação nasceu comigo. No liceu, fui várias vezes “chefe de turma”. Na Universidade, vivi a experiência de coordenar a Associação de Estudantes no momento da sua afirmação. Comecei a militar no PS em Óbidos assim que regressei de África e, mais tarde, passei a participar na vida partidária em Évora como militante de base, mas pouco a pouco, sem que isso fosse um objetivo premeditado, fui sendo eleito para responsabilidades cada vez maiores. Em 1990, fui eleito secretário – coordenador da Federação de Évora e, em 1991, Jorge Sampaio insistiu muito comigo para liderar a lista de Évora à Assembleia da República. Preferi ser segundo porque a vida académica e familiar recomendava ficar mais algum tempo por Évora, mas em 1995, já não consegui dizer que não, e fui eleito deputado. Era desde 1993 membro do secretariado nacional do PS a convite de António Guterres, ao mesmo tempo que presidia ao Conselho Diretivo da minha área Departamental na Universidade. Desde então, tenho sido um Académico e Político. Nunca fiz uma rutura com nenhum dos campos. Gosto demasiado das duas coisas e acho que sempre as consegui conciliar, usando o saber académico no exercício político e a experiência política no desempenho académico.
Fui várias vezes reeleito como Deputado Nacional e como Deputado Municipal em Évora e Montemor -o-Novo desempenhando funções políticas diversas. Fui coordenador do Proalentejo, Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna, Coordenador da Estratégia de Lisboa e do Plano Tecnológico e Secretário de Estado da Energia e da Inovação. Fui durante alguns mandatos membro do Comité das Regiões.
Entre 2011 e 2013 desempenhei a função política de maior visibilidade, liderando o Grupo Parlamentar do PS na Assembleia da República. Foi uma experiência fascinante, mas também aquela em que a política me tomou a 100% sem espaço para a costela académica.
A aventura da Europa (candidatura ao Parlamento Europeu) esteve várias vezes para acontecer antes de 2014, mas nesse ano foi a forma perfeita de voltar a um território que gosto muito. O território em que o conhecimento académico e a experiência política se completam na perfeição. Sinto-me muito honrado pelo facto do meu Partido e dos eleitores me terem permitido exercer um segundo mandato que estou agora a concluir com muito entusiasmo.
O exercício político em Portugal dá mais adrenalina e tem resultados mais imediatos. No Parlamento Europeu construímos alicerces com menos visibilidade, mas maior impacto estrutural. Em qualquer dos casos, ser um representante democrático é um privilégio e uma enorme responsabilidade.
Uma vida ligada à política e ao escrutínio democrático é uma vida de vitórias e derrotas. Precisaria de muito espaço para as enumerar. A não concretização da regionalização administrativa é uma das minhas maiores desilusões. As formas como Portugal e o Alentejo se têm vindo a modernizar, em particular após a integração na União Europeia é uma das minhas maiores alegrias.
Escolhi dedicar a minha vida a duas tarefas inacabadas. A procura do conhecimento em torno do admirável mundo novo da revolução digital e dos seus impactos nos territórios, nas pessoas e nas empresas e a luta por um mundo mais livre, mais justo e mais fraterno.
Espero dedicar o resto da minha vida dando o meu melhor nestes trilhos. Na academia e na ação cívica, quero continuar a contribuir para o reforço do projeto europeu, para a afirmação de Portugal no mundo e para que o nosso Alentejo deixe cada vez menos gente para trás no seu processo de desenvolvimento.
O meu percurso de vida só foi possível porque tive sempre comigo gente amiga, empenhada solidária, sonhadora e com vontade de tornar o mundo melhor. Nalguns momentos dei rosto às suas vontades e noutros fui soldado dos seus combates.
Aos sessenta e cinco anos há sempre coisas que teríamos feito de forma diferente. Só por arrogância se pode achar que nunca se errou, mas não me arrependo de nenhuma das grandes opções e decisões que tomei na vida. Estou grato a todas e a todos que me tornam possível hoje sentir e dizer isto.