Apanhar a onda
O mundo está em permanente transformação. Essa transformação tem vindo a acelerar cada vez mais, com um forte impulso científico e tecnológico em tudo o que tem a ver com dados, genes, átomos e com a sua combinação em novas soluções, modelos, produtos e serviços.
Modulada pelos diversos patamares de controlo humano, a mudança não deixa nada nem ninguém imune. A capacidade de adaptação tornou-se uma ferramenta essencial para subsistir na complexidade e as competências técnicas e emocionais são cada vez mais determinantes para que as pessoas e as comunidades possam garantir alguma autonomia e controlo sustentável sobre as dinâmicas geradas.
Mesmo os mais resistentes à mudança acabam por ser apanhados pela onda, porque muitos dos mecanismos, modelos e formas tradicionais de fazer e de estar na vida em sociedade, deixaram de estar disponíveis.
Apanhar a onda (da transformação) soa bem nesta época estival. Mas pode ao mesmo tempo ser uma boa ideia. Se vamos todos ser obrigados a mudar processos, uns para melhor e outros para pior em função dos contextos, a preservação do sentido e da identidade ganhará tanto mais, quanto mais formos capazes de nos prepararmos ou transformarmos por conta própria para sermos capazes de tirar partido das alterações. Se isto é verdade para os indivíduos, também é obviamente verdade para as comunidades e para as organizações.
Nas minhas intervenções públicas tenho vindo a defender cada vez mais que a literacia digital entendida como a soma dos conhecimentos e das competências necessárias para compreender e agir num mundo marcado por um novo contexto de aceleração tecnológica, deveria constituir-se, para já enquanto princípio, como um direito humano universal. É longo o caminho a percorrer. Por isso é que é tão urgente começar desde já a dar os primeiros passos.
Primeiro que tudo é preciso despertar os cidadãos para terem uma consciência crítica da realidade e criar neles uma vontade de transformação proativa e autocontrolada. Ao mesmo tempo é preciso proporcionar ao maior número de pessoas possível, as ferramentas técnicas e emocionais de aprendizagem, quer na formação inicial, quer na formação contínua, quer no acesso a ações específicas de requalificação.
Em síntese, podemos ir na nova onda tecnológica ou aproveitar a onda para sermos protagonistas na definição de algumas das suas coordenadas e valores implícitos. O segundo caminho implica uma mobilização individual e social que torne a aposta na literacia digital uma prioridade óbvia ou inevitável para quem decide. Vamos apanhar a onda?