Artigos de Opinião

Neste espaço poderá encontrar os artigos que ao longo dos últimos anos foram sendo escritos por Carlos Zorrinho e publicados em diversos meios de comunicação social.

Zorrinho defende que Seguro “é bom candidato” a Belém e espera decisão do PS até à primavera – Entrevista à Rádio Renascença

Dirigente socialista e candidato autárquico a Évora avisa Alexandra Leitão contra “acordo frentista” do PS em Lisboa. “É provável que perca algum eleitorado ao centro”. Sobre a corrida autárquica em Évora, na qual é candidato, Carlos Zorrinho diz-se apostado numa “maioria estável” para governar.

Carlos Zorrinho considera que até à primavera o PS tem de decidir que candidato vai apoiar às presidenciais de 2026 e defende que o antigo líder do partido António José Seguro “é um bom candidato a Belém”. “No mínimo”, o PS tem de chegar à segunda volta destas eleições, avisa.

Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e do jornal Público, o candidato socialista à Câmara Municipal de Évora diz-se apostado em conquistar uma “maioria estável” para governar a autarquia e aconselha Alexandra Leitão a evitar um “acordo frentista” do PS em Lisboa. “É provável que perca algum eleitorado ao centro”, avisa o dirigente do partido.

O antigo líder parlamentar do PS e ex-secretário de Estado da Administração Interna de António Guterres critica ainda as operações policiais como as do Martim Moniz, em Lisboa, considerando que o Governo criou uma “insegurança de Estado” que diz ser “inaceitável”.

Nesta entrevista ao programa Hora da Verdade, Carlos Zorrinho defende também que o PS não deve definir o sentido de voto no Orçamento do Estado de 2026 antes de conhecer o documento. “Nunca se deve fechar nenhuma porta”, diz o dirigente socialista.

Nos últimos anos, Évora tem escapado ao PS nas autárquicas. Desta vez, Carlos Zorrinho confia na perda de influência eleitoral do PCP?
Não é tanta confiança na perda de poder eleitoral do PCP, é o sentimento de que nos últimos anos a cidade estagnou, perdeu ambição, capacidade de atratividade.

Neste momento, mais do que olhar para o passado, quero fazer uma campanha pela positiva, uma campanha de mobilização, acreditando que Évora, capital de Portugal, capital do Alentejo, que vai ser Capital Europeia da Cultura, tem um enorme potencial inexplorado e tem muita gente que quer e que acredita numa Évora menos fragmentada e mobilizadora.

O PCP passou a ser residual no Alentejo, a seu ver?
Do ponto de vista autárquico, não. Do ponto de vista das legislativas, sim, é residual. Olhando para a atual vereação em Évora, o PCP tem dois vereadores, o PS tem dois vereadores, o PSD tem dois vereadores, há um movimento independente que tem um vereador. A fragmentação é altamente prejudicial à cidade. Esta fragmentação não ajuda a dar tração aos grandes projetos de mudança que a cidade precisa.

Está apostado numa maioria absoluta, é isso?
Estou apostado numa maioria estável para governar. Claro que, quanto mais estável for a maioria, mais fácil é aplicar um programa.

Nas últimas eleições legislativas, o Chega teve 19% em Évora. O que é que está a acontecer no Alentejo e no distrito de Évora para o discurso do Chega chegar a tantas pessoas e ter este acolhimento?
Naturalmente, como numa grande parte do interior do país, o descontentamento das pessoas tem crescido. Embora muita coisa tenha sido feita no Alentejo nos últimos anos, a verdade é que continuamos a ter uma região muito envelhecida, problemas de demografia muito grandes, continuamos a não ter a massa crítica necessária para fixar as pessoas. Os serviços públicos melhoraram muito, mas não chegam da forma como deviam chegar a toda a população.

No Alentejo sempre houve um elevado voto de protesto que normalmente se encaminhava para o voto na CDU. O que penso que tem estado a acontecer é que esse voto de protesto tem vindo a dirigir-se em parte da CDU para o Chega. Mais do que qualificá-lo, o problema é resolvê-lo. As eleições autárquicas deste ano são muito importantes também por isso. Nós identificamos um sentimento de afastamento muito forte em todo o Ocidente dos eleitores em relação aos políticos. E essa falta de proximidade, essa falta de empatia tem nas eleições autárquicas um espaço muito importante para se poder mitigar.

O adversário do PS é o Chega ou o PCP?
Eu quero fazer uma campanha muito pela positiva. O adversário do PS são as ruas e a higiene urbana que toda a gente identifica como inaceitável. É o trânsito caótico e a incapacidade de algumas empresas que querem investir em Évora. O não haver habitação. Esses são os verdadeiros adversários.

Se não houver uma lógica de fragmentação, e eu espero que essa mensagem possa passar para os eleitores de Évora, então, provavelmente, haverá uma lógica mais bipolarizadora e, talvez, o adversário possa ser mais o PSD.

Acha que os temas do Chega como o discurso securitário podem ter algum eco nos problemas que vivem as pessoas em Évora ou não?
Évora é uma cidade globalmente segura, tal como o país. A questão é a capacidade ou não de o Chega de criar uma perceção de não segurança. É preciso combater isso. Quando se vê a polícia no Martim Moniz a fazer toda aquela cena está-se a criar insegurança de Estado para depois se dizer: “Atenção, somos nós que podemos garantir a segurança”.

Ou seja, para conquistar uma parte do eleitorado do Chega, o atual governo está a colocar a polícia numa má situação. Devemos proteger as forças de segurança, valorizar as forças de segurança, não é usá-las em coreografias. A criação de uma insegurança de Estado para depois dizer: “Nós é que garantimos a segurança” é, do ponto de vista político, algo inaceitável.

Acha que há uma polícia de Estado, neste momento?
Não acho que haja uma polícia de Estado. Isso é excessivo. O que eu acho é que o governo usa, politiza a ação da polícia para criar um clima que facilite a sua agenda securitária. E houve ao longo do tempo uma menor atenção ou certo preconceito da esquerda em relação aos temas de segurança. É um erro enorme. Não me resigno à ideia de que o tema da segurança seja um tema de direita. Não é.

O PS está a perder a batalha da segurança?
Não. A esquerda, ao longo de muitos anos, e não apenas aqui em Portugal, não fez do tema da segurança um tema prioritário, escolheu outros temas, outros temas sociais, mas a segurança é um tema cada vez mais importante, num mundo cada vez mais global, em que a segurança já não é apenas a segurança normal, é também a cibersegurança, por exemplo. O PS também não pode ser apenas um crítico para passar a ser um proponente.

E essas propostas têm faltado ao Partido Socialista?
O PS deve começar a falar muito mais de segurança e deve começar a falar muito mais do modelo alternativo de segurança, que é o modelo de regulação, de integração, de proximidade, de valorização das forças de segurança.

Acha que o discurso do PS sobre segurança confunde-se com o do dos partidos à sua esquerda?
O PS deveria valorizar mais um discurso seu próprio. Tem de fazer o discurso da segurança com empatia, segurança com sentido de Estado, segurança com proximidade, como uma das suas bandeiras. E se essa for uma linha vermelha que o separa de outras forças mais à esquerda, tem de assumir que deve separar.

Soube-se nos últimos dias que Alexandra Leitão será a candidata do PS a Lisboa. É uma aposta na esquerda mais à esquerda do PS?
É uma aposta em Alexandra Leitão. É uma candidata forte. Se lhe pudesse dar um conselho, acho que ela devia mobilizar o muito eleitorado em Lisboa que está muito, muito descontente com a governação autárquica de Carlos Moedas. E depois, se os partidos mais à esquerda também se juntarem à sua candidatura, acho que, para ganhar uma câmara todos são importantes. Eu não defendo uma lógica frentista. Se Alexandra Leitão fizer primeiro um acordo frentista e depois se apresentar ao eleitorado, é provável que perca algum eleitorado ao centro.

Sobre as eleições presidenciais, António José Seguro diz que está a ponderar se é ou não candidato às eleições de janeiro de 2026. Seria um bom candidato para si?
Sim, seria um bom candidato. O PS não pode voltar a ter falta de comparência nas eleições presidenciais. Tem a obrigação de ter um candidato que dispute a segunda volta para ganhar. O PS deve escolher entre aquelas figuras que se disponibilizarem porque as eleições presidenciais são pessoais – e isso inviabiliza algumas coisas de que se falou, como as primárias.

Não faz sentido a ideia de primárias para o PS escolher um candidato, como defendeu Ferro Rodrigues?
Eu disse que não fazia sentido por essa razão. Para haver primárias implicaria que todas aquelas pessoas que se afirmavam individualmente como potenciais candidatos pelo PS, teriam também de estar disponíveis para aceitar participar de umas primárias e fazer um pacto entre elas a dizer que as que não ficarem em primeiro desistem. O PS pode escolher um candidato e pode fazer primárias para escolher o candidato a primeiro-ministro.

Quando é que o PS tem de tomar uma decisão?
Quando tiver o número suficiente de candidatos para poder depois fazer a sua escolha. Eu acho que na Primavera.

O PS não corre o risco de ter mais do que um candidato à corrida às presidenciais, como aconteceu em últimas eleições?
Sim, mas não pode hesitar em apoiar um. Deve fazer tudo o que for possível para não ter mais do que uma pessoa identificada. O PS tem de trabalhar o melhor possível para só haver um candidato que as pessoas identifiquem como este é o candidato do PS. O PS corre o risco de não eleger um Presidente da República se não conseguir unir-se em torno daquele ou daquela que estiver mais bem colocado para o fazer.

O PS não tem um Presidente da República da sua área política há 20 anos. Não corre o risco de ficar mais cinco ou dez anos sem alguém da sua área política, tendo em conta a popularidade, por exemplo, do almirante Gouveia Melo?
O almirante Gouveia Melo é popular porque não é conhecido. O que é popular no almirante Gouveia Melo é, digamos, a persona, o aspeto físico, a farda e o facto de, em determinada altura, ter associada a uma boa capacidade de liderança na questão das vacinas. Ora, não se é Presidente da República pela farda, pela altura ou pela cor dos olhos. Não se é Presidente da República por ter conseguido coordenar, embora isso ajude, um processo de vacinação. O almirante Gouveia Melo vai ter de se revelar. E quando se revelar, pode correr bem, mas também pode correr mal.

Há quase um ano que Pedro Nuno Santos está a liderar o PS. Para além das pensões e da abstenção no Orçamento do Estado, há alguma coisa a reter desta direção? Não se esperava mais ação, mais propostas, em vez de menos reação ao Governo?
Há menos de um ano que Pedro Nuno Santos está a liderar o PS. Há muitos militantes que me fazem a mesma pergunta e eu digo: “Camarada, se calhar aqui já não paga Scuts porque nós fizemos isto, paga menos impostos porque isto aconteceu”. Foram muitas coisas ao mesmo tempo. É preciso lançar agora as autárquicas, é preciso tratar das presidenciais, é preciso começar a preparar a discussão do próximo Orçamento do Estado. Neste tempo, o secretário-geral cumpriu aquilo que são os mínimos que tinha que cumprir. Agora, com mais experiência, certamente poderá fazer mais e melhor.

Falou do Orçamento do próximo ano. Acha que o PS devia manter aberta a porta à viabilização do próximo Orçamento?
Nunca se deve fechar nenhuma porta sem conhecer o documento.

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