Évora – Europa ao Sul
Acompanhei desde o primeiro momento com grande entusiasmo a candidatura de Évora a Capital Europeia da Cultura 2027. Com o “Vagar” como conceito inspirador, caleidoscópico de ângulos e espiral de ideias em torno de uma identidade que se maturou numa outra forma de olhar, de ser e de estar, mais próxima das coisas e dos sentidos, a vaga gerada pelos que conceberam um projeto de excelência e vencedor e por todos os que para ele contribuíram, foi saltando etapas e venceu.
Quando em 7 de dezembro de 2022 Évora foi anunciada como a cidade selecionada para representar Portugal como Capital Europeia da Cultura não foram apenas os eborenses que tiveram razões para se sentir orgulhosos. Tal como foi brilhantemente concebida, a ideia de Évora Capital Europeia da Cultura reforça a sua centralidade alargando-a aos territórios que partilham uma mesma raiz, abrindo veredas a uma ideia de Europa ao Sul e pronta a reviver e a reavivar as suas pontes multiculturais com o sul global e em particular com o mediterrâneo, promovendo também dessa forma o diálogo entre os povos em tempos de conflito, fratura, guerra e destruição de patrimónios materiais e imateriais que empobrecem todos os dias a humanidade.
Recordo-me de ter usado algumas vezes este espaço para partilhar alguma preocupação com o que me parecia ser uma falta de dinâmica colaborativa e de envolvimento dos múltiplos atores do tecido cultural, económico e social que um projeto deveria agregar durante o período de conceção da candidatura. Felizmente esses sinais não contaminaram o projeto nem impediram a sua retumbante afirmação e vitória.
Deixaram, no entanto, marcas para os passos seguintes, com a constatação de que os calendários de desenvolvimento e implementação das várias fases previstas foram sendo ultrapassados sistematicamente, colocando hoje uma enorme pressão e exigência para que uma vaga coletiva de vontade permita ainda chegarmos a bom porto.
O exercício generalizado de passa culpas que antecedeu a formalização da tomada de posse da nova direção da Associação Évora 27 constituiu um alerta para o futuro. Por esse caminho não vamos lá. Ninguém, em particular os que de diversas formas trabalharam e trabalham para a afirmação, quer do projeto quer dos territórios culturais em que ele se escora, pode ser dispensado de participar com as suas propostas, saberes e experiências na grande celebração do que somos e como somos em comunhão com o mundo, no já próximo ano de 2027, em que a partir de Évora, a Europa estará ao Sul.