Artigos de Opinião

Neste espaço poderá encontrar os artigos que ao longo dos últimos anos foram sendo escritos por Carlos Zorrinho e publicados em diversos meios de comunicação social.

Heróis de Abril

O cinquentenário do 25 de Abril seria sempre uma celebração especial. A fragmentação da sociedade portuguesa e a emergência de uma forte corrente reacionária tornou-a ainda mais importante. O povo voltou a sair à rua como não se via há muito tempo, enchendo avenidas e praças por todo o País, cantando a plenos pulmões que ele é “quem mais ordena”.

O povo é o grande herói de Abril. Mas a história dos povos não se faz sem a marca dos rostos e das figuras que dão significado à mudança. Heróis de Abril foram todos os que antes do dia da libertação lutaram para desgastar a ditadura e exigir a liberdade, os que naquele dia tiveram a coragem de capitanear a viragem, os que depois consolidaram a via democrática pluralista e os que ao longo de cinquenta anos deram sentido à ambição da democracia e do desenvolvimento e da afirmação europeia e global de Portugal.

Entre esses heróis estiveram também os protagonistas do poder local democrático que em proximidade transformaram o País, Freguesia a Freguesia, Concelho a Concelho, olhos nos olhos com os problemas dos cidadãos e focados na solução dos seus problemas em concreto.

No passado dia 25 de Abril não me faltaram oportunidades de celebrar a revolução, em Estrasburgo onde decorria um plenário do Parlamento Europeu, descendo a Avenida da Liberdade ou em muitos outros eventos públicos ou para os quais fui expressamente convidado.

Celebrei -a, no entanto, homenageando um herói de Abril muito especial, Presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz durante 33 anos e grande referência do poder local democrático no Distrito, na Região e no País. Foi nesse dia que nos Paços do Concelho cuja remodelação ele próprio liderou, e com o patrocínio do atual executivo, Victor Martelo lançou o seu livro de memórias, que me deu a honra de prefaciar.

No livro, intitulado “Memórias da minha vida” e cuja leitura recomento, escrevi no prefácio “Nos momentos mais difíceis da consolidação da democracia representativa em Portugal … Mario Soares foi sempre o farol da convicção e tenacidade a que devemos em larga medida a sociedade aberta, cosmopolita e plural em que hoje vivemos” e mais à frente “ao nível do poder local Victor Martelo desempenhou um papel equivalente, assumindo-se como um repositório de esperança e um exemplo de diferença”.

Entre tantos heróis de Abril, quis o destino que no seu cinquentenário tenha tido o privilégio de reviver a memória de Mario Soares e viver as memórias de Victor Martelo. Foi uma festa diferente, mas foi uma festa bonita. 25 de Abril sempre!

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