Jardim em Évora
Alberto João Jardim foi o orador principal de um Seminário sobre Desenvolvimento Regional que decorreu na Universidade de Évora no dia 8 de maio. Personalidade controversa, governou a Região Autónoma da Madeira durante 37 anos. Culto e inteligente, Alberto João, que conheci mais de perto quando fui membro, em simultâneo com ele, do Comité das Regiões da União Europeia, sempre foi um líder popular e populista, com uma capacidade única de falar a linguagem do seu eleitorado, de fazer da autonomia regional a sua grande bandeira e do designado centralismo do Continente, o inimigo unificador que lhe deu as ferramentas para se perpetuar e legitimar eleitoralmente no poder por quase quatro décadas.
A sua intervenção no Seminário, jovial para um homem nascido em 1943 e polémica como é seu timbre, foi uma extraordinária aguarela da história das relações entre o poder regional e o poder central no período pós 25 de abril, traçada por um dos seus mais importantes protagonistas.
Não pretendo fazer nesta crónica um juízo de valor específico sobre o mérito das políticas sufragadas e aplicadas, mas antes salientar a perceção de como a dialética entre o poder central e o poder regional deu voz às escolhas dos eleitores da região, tenham sido elas as mais adequadas ou nem tanto.
Escutando a sua narrativa e distinguindo o populismo de quem faz o que for preciso para ganhar (o tipo de populismo de Jardim) do populismo de quem promete o que as pessoas querem ouvir mesmo que contraditório e impossível de concretizar (o populismo radical que nos assolou em 18 de maio) perguntei-lhe se não considerava que a não concretização da regionalização administrativa do Continente não constituía um travão ao desenvolvimento regional, em particular das regiões mais interiores e despovoadas como é o caso do Alentejo.
Alberto João Jardim, que em 2018 integrou a Comissão Independente para a Descentralização (CID) presidida pelo recentemente falecido João Cravinho não poupou nos adjetivos ao descrever como também neste último assomo de esperança o poder central se tinha unido para enviar a proposta da Comissão para a gaveta, designando a recusa em concretizar a regionalização administrativa como uma das provas de maior prova de “obscurantismo” na nossa democracia.
Ao longo da minha vida cívica tenho defendido ideias e projetos muito diferentes dos de Jardim, mas concordo com ele que o centralismo exacerbado tende a secar o futuro, a esbater a esperança e a corroer a democracia.