Artigos de Opinião

Neste espaço poderá encontrar os artigos que ao longo dos últimos anos foram sendo escritos por Carlos Zorrinho e publicados em diversos meios de comunicação social.

Um dia a não esquecer

Os sinais de descontentamento eram evidentes. A campanha miudinha e truculenta não augurava nada de bom. Temia-se por uma abstenção acrescida, pelo desinteresse e pelo alheamento do eleitorado, mas o que aconteceu nas eleições legislativas de 18 de maio foi muito diferente disso e não pode ser encarado apenas como um percalço ou um momento menos feliz do processo democrático.

Podemos fazer uma análise com base nas categorias tradicionais. A direita venceu em toda a linha de tal forma que tem capacidade para sozinha alterar a Constituição da República Portuguesa. A esquerda minguou de forma abismal. O regime deixou de assentar numa base bipartidária e rotativista e passou a ter que lidar com um novo bloco político.

Esta análise sabe-me a pouco. Em primeiro lugar o fenómeno de transformação não nasceu de uma dinâmica saudável de confronto de ideias, propostas e políticas, mas fermentou antes num composto de insinuações, maledicências, ataques e contra-ataques pessoais, que nivelou por baixo o processo de escolha. A grande maioria dos votos no bloco populista não foram ideológicos na aceção normal de serem baseados num projeto político alternativo. Foram ideológicos na estrita medida do serem contra o sistema.

Por outro lado, senti que uma percentagem significativa dos votos que confluíram quer na coligação vencedora quer na sua alternativa direta, foram votos de mal menor e não de expressão de adesão comprometida.

O pasmo que me preocupa não é tanto o da surpresa como os resultados verificados, mas o que indicia um sintoma de revolta na sociedade portuguesa. Uma revolta que se expressou sob a forma de pronunciamento democrático.

Vivemos um tempo em que multiplicar propostas e promessas se pode converter em ruido e agravar a fratura entre representantes e representados. Tenho a convicção que a grande urgência para responder ao abanar da democracia constitucional é saber ouvir, saber dialogar, saber olhar as pessoas olhos nos olhos, saber incluir e saber criar um clima de confiança para que se possam encontrar e aplicar soluções concretas, credíveis, construídas e aplicadas em comunidade.

Dia 18 de maio é um dia a não esquecer. Ouvi com respeito a mensagem dos portugueses e também dos Eborenses e reforcei a convicção que o trabalho que estamos a fazer na candidatura à Presidência da Câmara de Évora, ao ouvir as pessoas, criar laços de confiança e ir construindo equipas e políticas para fazer aquilo que cidadãos querem e precisam que seja feito, é a rota certa contra a anemia da política tradicional.

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