Celebração
O Doutoramento Honoris Causa com que o Instituto Politécnico de Portalegre (IPP) decidiu agraciar António Cachola no passado dia 28 de fevereiro, tinha tudo para ser um grande e inesquecível evento académico e social. Tinha tudo para ser e foi mesmo.
A vida de António Cachola tem sido de uma riqueza extraordinária. O seu legado de cidadão, de profissional da gestão empresarial e de apaixonado da promoção cultural tem deixado marcas indeléveis. Esses sulcos profundos foram bem refletidos na diversidade de origem, formação e história de vida das centenas de amigos e colegas que ocorreram à cerimónia, e nos discursos de aclamação, elogio e patronato com que foi recebido na academia.
A atribuição do grau, além de justíssima, marcou uma nova era da arquitetura do ensino superior em Portugal, com novos modelos de escopo e articulação a serem estabelecidos pelo Regulamento de Gestão das Instituições de Ensino Superior (RGIES) entre as Universidades e os Institutos Politécnicos. A presença do Ministro da Educação Fernando Alexandre, ainda em plenas funções no dia da cerimónia, pontuou essa faceta do momento.
Na sua belíssima lição, António Cachola glosou o tema das fronteiras não como linhas separadoras, mas como territórios de sobreposição, miscigenação, diversidade e criatividade, só possíveis de explorar na sua singularidade, beleza e humanismo, se às dimensões económicas, sociais e ambientais que lhe estão subjacentes se acoplar a perspetiva estética e ética da visão cultural.
Braço direito do Comendador Rui Nabeiro na afirmação da Delta enquanto empresa com alma alentejana, gerada a partir de Campo Maior para o mundo, e impulsionador do Museu de Arte Contemporânea de Elvas (MACE) e da magnífica coleção de arte contemporânea plurifacetada que ostenta o seu nome, António Cachola demonstrou a empatia e a grandeza de quem cruza as terras onde cresceu com o sentido cosmopolita de um cidadão do mundo e teve a lucidez de transformar tudo isso numa mensagem de paz, de beleza, de respeito profundo pela vida humana e de apelo ao seu entendimento, não como uma competição agreste pelo efémero, mas como uma celebração criativa da nossa condição humana.
No final da cerimónia, ao apresentar cumprimentos ao novo Doutor Honoris Causa, desafiei-o a difundir através dos vários suportes hoje disponíveis, o seu fulgurante repto de conhecimento e sabedoria num tempo de trevas, egoísmos, materialismos agudos e submersão do belo pelo brutal e pelo dilaceramento dos valores. Com o seu sorriso sereno, não precisou de palavras para me “dizer” que sim.