De Paris a Évora
Com as polémicas inevitáveis num evento de grande impacto geopolítico global, as Olimpíadas de Verão realizadas este ano em Paris constituíram uma demonstração forte de que aquilo que une os povos do mundo é muito mais do que aquilo que os separa. Pelos diversos recintos desportivos, mais de 10 000 atletas de 206 comités olímpicos competiram em 32 modalidades de grande beleza e diversidade.
Como sempre acontece em acontecimentos com a grandiosidade de uns jogos olímpicos, existiram vencedores e vencidos, alegria e tristeza, orgulho e frustração, sorte e azar, heróis e esquecidos, mas nada disso apagou o espírito de comunidade global em torno dos que nele participaram, dos que a eles assistiram ao vivo e dos biliões que os acompanharam pelas televisões e outras plataformas multimédia em todo o mundo.
No dealbar dos jogos alguns profetizaram que estes podem ter sido as últimas Olimpíadas em que o perfil democrático do País anfitrião permitiu um evento aberto, plural, aberto e diverso. Em 2028 será Los Angeles nos Estados Unidos, a receber pela terceira vez na sua história as Olimpíadas de Verão. O que acontecer nas eleições presidenciais americanas de novembro vai preparar um terreno fértil ou tóxico para a preparação e realização dos jogos, não obstante a confiança que continuo a manter na resiliência do sistema democrático americano.
O magnífico cenário histórico de Paris e o contexto cultural em que decorreram os jogos foram parte do seu sucesso. O cimento ético e cultural é o instrumento mais importante de que a humanidade dispõe para ultrapassar o tempo de crispação, conflito e guerra em que se vem vindo a deixar afundar.
Esta ideia tem que estar bem presente na concretização do enorme desafio e da grande oportunidade que constitui a Capital Europeia da Cultura 2027, que será Évora enquanto Cidade e enquanto símbolo de um território, de uma história e de um modo de ser e de viver que se foram consolidando ao longo dos séculos numa identidade única de integração, interligação e ponte entre povos, saberes, tradições e culturas.
Além da valorização da Cidade, do Concelho e da Região e da criação de oportunidades de fruição cultural e realização profissional para quem aqui vive ou quer viver, a Évora Capital Europeia da Cultura 2027 tem que levantar bem alto um estandarte de diferenciação como espaço de diálogo entre o Sul no Norte e o Norte do Sul e entre o Norte Global e o Sul Global, espraiando uma nova vaga ética de capacidade de convivência entre os povos. Tal como Paris.