Artigos de Opinião

Neste espaço poderá encontrar os artigos que ao longo dos últimos anos foram sendo escritos por Carlos Zorrinho e publicados em diversos meios de comunicação social.

Binóculos

Desde há muitos anos que tenho o hábito de trazer comigo um caderno de capa dura e uma esferográfica de quatro cores, que funcionam como preciosos auxiliares de memória e de registo para ir sabendo às quantas ando.

As canetas, que quando deixaram de ter tinta, fosse o preto ou o vermelho, fosse o verde ou o azul, acabaram por ir parar à reciclagem. Guardei, no entanto, muitas dezenas de cadernos que talvez um dia sejam úteis se quiser passar a limpo as minhas memórias e caso consiga decifrar a letra e as representações gráficas com que os vou enchendo.

Sendo canhoto, mas escrevendo com a mão direita, a minha letra sempre foi muito difícil de perceber (que o diga quem ao longo da vida teve que me secretariar, verdadeiros anjos da guarda que trabalharam denodadamente para conseguir que, através da persistência, o código se revelasse).

Ultimamente, com a prevalência crescente da escrita em teclado, a letra com que sintetizo ou anoto ideias, preparo reuniões ou alinho compromissos, até por mim já é difícil de decifrar. Mais fácil é perscrutar uma tendência nessas anotações sobre o que aconteceu ao longo dos anos ou sobre o que ia prevendo ou desejando que acontecesse. As ideias e as planificações foram sendo cada vez mais amarradas a uma visão do mundo e à ambição de deixar uma pegada nesse caminho, e cada vez menos determinadas por processos rígidos, metodologias pré-determinadas ou conceitos de conveniência.

Com uma mente progressiva (e progressista), ver ao longe e ver ao perto é tudo menos incompatível. Antes pelo contrário, são dois lados da mesma moeda. No entanto, com a complexidade que brota da informação e da desinformação e das múltiplas interações em tudo o que se faz, se quisermos abarcar no seu todo a fita do tempo e ter certezas sobre o itinerário antes de partir, o mais certo é ficarmos presos na antevisão de algum barranco possível no caminho que ainda está por fazer.

Há quem esteja na vida de binóculos e no entanto nunca se desloque do mesmo sítio e quem seja muito rotativo na análise do contexto imediato sem com isso ousar atingir o alvo pretendido. Também já me coube cometer os erros que acabei de enunciar, mas esforço-me todos os dias para que assim não seja.

Acredito que ver ao longe, ou seja, ser capaz de atribuir significado à imaginação usando o conhecimento e os valores é fundamental para se poder ver ao perto e decidir. Da mesma forma, abomino a indecisão de quem se deixa atafulhar pelos possíveis mapas da caminhada ou amedrontar pelas incertezas do futuro.

A incerteza é o contexto mais certo e fazer acontecer o caminho mais gratificante que a vida pública tem.

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